Em 1987 o biólogo François Jacob publicou a sua autobiografia em jeito de testamento, embora só viesse efetivamente a desaparecer do mundo dos vivos em 20 de abril de 2013.
O nome era-me familiar por causa do Prémio Nobel conquistado em 1965, mas nada sabia sobre ele até dedicar algum do tempo disponível à leitura das mais de 300 páginas sobre o relato das suas vicissitudes.
Nascido numa família de origem judaica, mas que não praticava os respetivos rituais, François foi aluno mediano até entrar na Faculdade de Medicina em vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial. A rápida derrota francesa estimulou-o a partir para Inglaterra e aí juntar-se aos que pretendiam a desforra sobre os aparentemente invencíveis nazis.
Muitas das páginas do livro são dedicadas à experiência africana, quer em destacamentos médicos, quer no comando de um posto no meio do deserto chadiano. À distância vai sabendo da morte de sucessivos amigos, nomeadamente de Roger D., trespassado por uma zagaia, quando procurava pôr termo a uma disputa entre vizinhos num outro posto não muito distante daquele onde François via os dias desfilarem muito devagar.
De repente o curso da guerra acelerou-se e ele viu-se nas Forças Francesas Livres, comandadas por Leclerc, a desbaratar os alemães no Magreb. É numa dessas noites, que ele não percebe como um alemão, mesmo ali bem à sua frente, o não alvejou enquanto rastejava para a sua trincheira.
Quando Paris é libertada ou os aliados chegam a Berlim, não consegue participar nos festejos, porque, ferido em batalha, recuperava de sucessivas operações, primeiro em Inglaterra, depois em França.
Por essa altura ainda imaginava-se a viver com a bela Odile, que conhecera antes da guerra e em quem pensara durante todos aqueles anos, mas que ela vem-no visitar ao hospital em jeito de despedida, porque ficara noiva de outro, que não tardaria a regressar de um campo de prisioneiros na Alemanha.
No pós-guerra, François viveu um período de indefinição sobre o que faria a seguir: acabar o curso de medicina foi-lhe relativamente fácil, porque usufruiu de todas as regalias criadas para facilitar a vida aos ex-combatentes. Mas não se sentia com vocação para exercer tal profissão, que considerava demasiado entediante para a sua volubilidade. Foi quase por acaso, que desembocou na investigação científica num laboratório situado no sótão do Instituto Pasteur, embora sentisse faltarem-lhe as bases teóricas para as experiências, que começou a fazer, primeiro orientado por outros colegas mais velhos, depois de motu próprio, embora continuasse a estudar para conseguir o doutoramento.
Por essa altura já andava associado a Jacques Monod para encontrar explicação sobre a resistência das bactérias aos profagos devido à existência de mecanismos genéticos capazes de lhes refrear a atividade dos genes. Seria esse o trabalho consagrado pela Academia Sueca.
Ainda que no livro ele explicite uma orientação política para a esquerda, há a rejeição do ideário comunista, porque no fundo rejeitaria qualquer outra conotação, que não a de humanista.
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