O futuro parece rimar com imortalidade. Mas a que preço? Como é que as nossas sociedades já exangues, poderiam comportar uma explosão demográfica? Para além das questões de principio, como é o caso de só terem possibilidades de acesso a uma vida mais longa quem possuir capacidade económica para tal.
O trans-humanismo deixou de ser um sonho da Ficção Científica, segundo Natasha Vita Moore, que considera exequível prolongar a esperança de vida muito para além dos 122 anos atualmente tidos como barreira quase intransponível. O movimento, de que é uma das principais teóricas, aspira a um melhoramento do corpo humano de forma a que se transforme numa outra espécie, melhor adaptada aos desafios do futuro.
Dimitri Itskov, um jovem oligarca russo, é um dos principais entusiastas e investidores numa pesquisa que procura transferir as consciências para corpos criados artificialmente e onde se incorporem novas tecnologias passíveis de lhes assegurar uma durabilidade ilimitada.
Outro adepto do movimento, Zoltan Isttuan, criou o Partido Trans-humanista para concorrer às eleições presidenciais deste ano de forma a estimular a aprovação de mais recursos federais para a investigação científica orientada para o aumento da esperança da vida humana.
Há quem, porém, receie que os androides acabem por tomar o poder. Ou que se torne muito difícil distinguir até que ponto é humana uma pessoa, em parte criada artificialmente.
Há quem siga outras vias de investigação: na Croácia, Miroslav Radman procura descobrir os segredos de organismos resistentes à morte ou ao envelhecimento como é o caso da hidra.
Outras vozes assinalam o impacto no aumento dessa mesma esperança de vida só à custa da vacinação quase universal da população, da alimentação com produtos de melhor qualidade e descontaminada das suas bactérias.
Em Silicon Valley a indústria biotecnológica está em efervescência por causa da Google: dado que os seus dois criadores estão empenhados em retardar o envelhecimento, andam a investir milhões na Calico para que o cure como se se tratasse de uma mera doença.
Perante tal afluxo de dinheiro, quem anda a ser atraído ao setor, como abelhas em torno do mel, são os capitais de risco. O filósofo Jean-Michel Truong alerta para o perigo iminente: como o capitalismo anda precisado de start ups especulativas, a moda da imortalidade aparece-lhe como oportunidade a não desperdiçar. Esses fundos não se preocupam se, cientificamente, essa prometida vida eterna é ou não exequível. Importa-lhes sim, negociar títulos que enriqueçam os seus criadores e quem os começam por negociar, retirando-se quando a formação da bolha especulativa ameaçar o estoiro. Suscitando, então, a perda de milhões para os investidores mais incautos, que são a maioria dos pequenos e médios aforradores.
Ora, segundo esse analista, a bolha já está bastante inchada nesta altura, graças ao messianismo da Google, que anda a prometer matar a morte, como se de mensagem religiosa se tratasse.
Truong defende que a morte é fundamental para a evolução da espécie: só as gerações seguintes comportarão os ganhos da resiliência adquiridos pelos seus pais e avós nas mudanças dos ecossistemas em que viveram. Por isso, mesmo que venha a ser possível, a imortalidade apenas contribuiria para a extinção da espécie humana. Porque esse é o destino das que não evoluem...
- texto decorrente do documentário «L’Immortalité: la dernière frontière» de Sylvie Blum (2016)
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