Quando o filme passou nos cinemas nunca esteve nas escolhas possíveis para lhe dedicar alguma atenção. Manifestamente o melodrama destinado a encharcar lenços aos corações piegas não constitui propriamente o tipo de filme da minha preferência a não ser que venha assinado por um Douglas Sirk ou pelo seu mais prestigiado discípulo, o alemão Fassbinder.
Mas Hawking é um dos nossos contemporâneos, que mais admiro, quanto mais não seja pela ímpar inteligência em compreender os grandes mistérios do cosmos e no-los dar a conhecer. Ademais sempre manifestou um posicionamento político progressista e uma reiterada profissão de fé … no ateísmo. Tudo características, que ainda mais me dão razões para o admirar!
Há também James Marsh, o realizador que me suscitou uma das maiores surpresas alguma vez sentidas ao ver um documentário, «Homem no Arame», quando conseguiu transformar Philippe Petit - o funâmbulo que conseguira caminhar entre os topos das Torres Gémeas de Nova Iorque - de impressionante herói num biltre narcísico.
E, enfim, há Eddie Redmayne, o ator inglês, que está a evoluir numa filmografia muito estimável capaz de o consolidar como um dos mais sólidos cabeças-de-cartaz do cinema dos próximos anos.
Todas essas razões justificaram que visse o filme, quando passou nos Telecine. E não foi tempo perdido, porque cingiu-se às duas horas de duração, sem implicar o desperdício das deslocações.
Remayne e Felicity Jones são excelentes nos dois principais desempenhos, que abarcam a vida do casal Hawking desde 1963, quando se conheceram e se enamoraram, até ao seu divórcio, décadas depois, quando «A Breve História do Tempo» já constituíra um enorme sucesso global.
É claro que o argumento deve dar uma imagem muito favorecida de ambos, mas como diria John Ford, entre a realidade e a lenda, escolha-se esta última se contribuir para que os espectadores saiam mais satisfeitos da experiência...
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