Na edição dominical do «Público» Alexandra Prado Coelho entrevista o egiptólogo Luís Manuel de Araújo a respeito da anunciada probabilidade de se descobrir em breve o túmulo da rainha Nefertiti dentro do de Tutankhamon.
O professor da Faculdade de Letras de Lisboa não se mostra particularmente entusiasmado com a questão, que enquadra dentro do habitual fascínio ocidental pela civilização egípcia, e que já vem do tempo dos gregos, quando Platão e Pitágoras não hesitaram em visitá-la. Ademais, quando a «National Geographic» põe Nefertiti na capa da sua revista ela logo vende a duplicar, quiçá mesmo a triplicar, o que constitui explicação bastante para todo este sensacionalismo promovido pela publicação norte-americana.
Mas a entrevista vale pela desmistificação de alguns lugares comuns muito disseminados no imaginário coletivo: por exemplo, que foram os escravos hebreus a construírem as pirâmides, apesar de só terem chegado ao Egipto mil e duzentos anos depois delas já estarem edificadas. Ou sobre a magnificência do túmulo de Tutankhamon, na realidade “miserável, acanhado, diminuto, feito à pressa.”.
Há, porém, muito a realçar sobre a importância da civilização em causa pelo seu impacto nos nossos próprios arquétipos: por exemplo foram eles os primeiros a criar a ideia de um paraíso para além desta vida. Para Luís Araújo esse conceito poderá ter surgido mais ou menos assim: “Então a agricultura não se renova sempre e o sol não nasce e morre todos os dias? A vida é um constante morrer e renascer. Chega-se à ideia de que tudo volta à vida. Porque não o homem?”
Terá sido essa ideia de ressurreição a justificar a invenção das técnicas de mumificação e embalsamamento.
Essa conceção sobre uma vida no Além estipula uma separação entre quem a merece ou não. Só os justos, os solidários, os afáveis - aqueles cuja alma pesa menos do que uma pena! - conseguem passar pelo escrutínio democrático do implacável Osíris. Porque é um julgamento em que o faraó vale tanto como o mais modesto dos escribas.
Acresce, ainda desta entrevista, uma outra curiosidade: a de os Dez Mandamentos terem sido adaptados co capítulo 125 do Livro dos Mortos.
Temos, assim, que com ou sem túmulo de Nefertiti, o Antigo Egipto continuará a dar-nos motivos para sobre ele nos interessarmos.
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