Muito embora também tenha uma predileção muito especial por «Chinatown» este é o filme de Polanski que mais me agradou no conjunto da sua extensa filmografia. E o curioso é tratar-se de uma obra perfeita, realizada depois do pouco entusiasmante «O Beco», e antes do entediante «A Semente do Diabo».
Construído admiravelmente com a precisão da poesia e o realismo indispensável ao género fantástico - lição provavelmente obtida de Jean Cocteau! - o filme alterna momentos de hilariante comicidade com o estremecimento do medo nas cenas de terror.
Polanski confessaria depois a intenção de realizar um projeto em que a neve tivesse um papel preponderante, contrastando com o vermelho do sangue e com o azul feérico da iluminação lunar. Teremos, assim, dois cenários para desenvolver a ação: o negativo, que é a aldeia onde se concentram as vítimas, e o positivo que é o castelo donde emana o mal representado pelos vampiros.
Em meados do século XIX, e numa gélida noite de inverno, o professor Abronsius e os seu assistente Alfred chegam a uma hospedaria numa pequena aldeia da Europa Central.
Iminente vampirólogo, o professor tem razões fundamentadas para crer na existência de um feudo de vampiros naquela região isolada e o que ali vê confirma-o: tranças de alhos penduradas por todo o lado e a recusa aterrorizada dos aldeões quando os interroga sobre essa possibilidade.
Esse personagem de cientista reflete a influência de Carl Theodor Dreyer em Polanski. Porque Abronsius remete para o doutor satânico de «Vampyr». Assim como o conde Krolock até pelo nome lembra o Orlock do «Nosferatu» de Murnau.
Temos assim o professor deleitado a instalar-se na aldeia, mas Alfred, que logo se põe a espiar o banho da filha do hospedeiro, descobre o criado corcunda do conde Krolock a beber com avidez o sangue dos lobos, que mata.
Não tarda que, uma noite, Sarah seja mordida no banho pelo conde, enquanto o pai, igualmente contaminado, vitimiza a criada.
Abronsius e Alfred decidem ir ao castelo onde são recebidos com grande cordialidade pelo conde. Mas o pobre assistente quase é vampirizado e sodomizado por Herbert, o filho do anfitrião, quando procura Sarah, cuja voz ouve à distância algures nos longos corredores da edificação.
Para a salvar Alfred tem de enfrentar todos os convidados de Krolock, aproveitando a oportunidade dele estar distraído com o baile organizado em honra das suas novas vítimas.
Conseguindo escapar do ataque dos monstros, Abronsius, Alfred e Sarah afastam-se do castelo num trenó, sem que o rapaz se aperceba da perigosa aproximação dos dentes da namorada ao seu desprotegido pescoço.
O filme é feito de súbitas transições entre polos negativos para positivos e vice-versa, bastando aqui referenciar três dos seus melhores exemplos: inicialmente a Lua recua subitamente na paisagem, quando Abronsius e Alfred estão quase a chegar à estalagem. Há uma tensão indizível com a entrada de um cientista racional e de um cristão no seio da pequena comunidade judaica da aldeia. E o salvamento de Sarah não tarda a revelar-se o momento da saída dos vampiros para a conquista do mundo exterior àquela inóspita região.
Temos, assim, um filme com porta aberta para todos os possíveis em que tanto rimos, como subitamente nos refreamos nas cenas destinadas a causar-nos a inquietação.
Sem comentários:
Enviar um comentário