Sou objetivamente contra touradas e contra a utilização de animais em circos, apesar de, em miúdo, ter assistido a esse tipo de espetáculos com o agrado inocente das crianças da minha geração.
Não admira: uma vez a minha mulher foi a um concurso televisivo («Arca de Noé») dedicado aos animais e, logo na pré-seleção foi eliminada por discutir com a produtora, que a entrevistava, em como os animais têm sentimentos. Algo que a interlocutora quase achava escandaloso que se dissesse.
Desde que a minha filha nasceu, já lá vão 33 anos, sempre tivemos animais a acompanharem-nos no ambiente doméstico. Sobretudo gatos, que foram, no caso do saudoso e defunto Cléo, e são-no no caso do Laad grandes companheiros da nossa vida e que muito nos têm ensinado sobre a sua inteligência e emoções. A um coelho de estimação, cujos últimos anos foram de paralisia dos membros inferiores, chegámos a levá-lo ao colo em longas viagens de e para Grenoble.
Vem tudo isto a propósito do filme sobre a elefanta Tyke que, em 1973 foi levada de Moçambique para os EUA e utilizada durante vinte anos em espetáculos de circo até, um dia, virar-se contra o tratador e contra o assistente durante a atuação, fugindo depois pelas ruas da cidade até ser fuzilada à queima-roupa com mais de oitenta tiros.
Mas até esse desiderato trágico em Honolulu, e a exemplo de outros elefantes, utilizados em circos, ela foi sujeita a maus tratos com agressões quase quotidianas. O seu grau de infelicidade era tal que as primeiras imagens do documentário, colhidas antes dessa digressão, já a mostravam com uma tristeza comovente.
Nesse sentido o filme de Susan Lambert e Stefan Moore relaciona-se inevitavelmente com um outro, visto há um par de anos a propósito de revolta idêntica de uma orca contra os tratadores do parque aquático onde estava aprisionada.
Em ambos os casos, o que mais impressiona não é tanto a morte dos tratadores, mas as circunstâncias que levam ao negócio do entretenimento à custa do sofrimento de animais incompatíveis com o tipo de espaços confinados em que são obrigados a viver. E, nesse sentido o documentário não deixa indiferente quem o vê, porque a cena da morte de Tyke é terrível no quanto tem de injusta. Quem depois foi incumbido de remover o cadáver ainda encontrou uma lágrima derramada de um dos seus olhos…
Mas não se pense que os realizadores só dão a perspetiva de quem condena este tipo de exploração dos animais selvagens: com um tipo de argumentação que coincide com os defensores das touradas, os que pretendem continuar com tais práticas defendem-nas em função da «tradição». Algo que se torna cada vez mais inaceitável nos dias, que vão correndo.
A exemplo dos seres humanos cujos direitos humanos devem ser irrepreensivelmente preservados, os dos animais estão cada vez mais consolidados no imaginário coletivo do nosso tempo...
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