Este é um dos períodos culturalmente mais aliciantes do ano com a concomitância entre o Festival Indie e os Dias da Música.
Sobre este último andarei a escrever nos próximos três dias, apesar de passar grande parte do tempo no CCB. Sobre o evento dedicado ao cinema inicio agora a abordagem, muito embora só a retome na segunda-feira, quando voltar a cirandar entre as salas da Culturgest, do Ideal Paraíso, do São Jorge e do Museu do Oriente.
A nossa estreia deste ano deu-se com a primeira sessão de Curtas-Metragens integradas na competição internacional.
«Love», de Reka Bucsi, não impressionou com uma história sobre os efeitos do amor numa galáxia distante. Talvez porque as criaturas em causa eram demasiado estranhas, não foi fácil entender o que se pretendia com aqueles contínuos floresceres de folhas e com quem comia quem.
«Jan Peters», de Miguel Lopez Beraza, teve a curiosidade de ser filmado de princípio ao fim com uma câmara térmica, que permitia ver a realidade em função das respetivas cores de temperaturas. Seguimos, assim, o despertar e as horas que se seguiam, de um belga convencional, vendedor de profissão e que, na sua mediania mais não correspondia do que a uma estatística.
«Hotaru», de William Laboury, já interessou bastante mais com a história de Martha, que está em estado de hibernação numa nave espacial dirigida às estrelas para constituir uma memória viva da civilização terrestre. Embora lhe esteja a escapar a que mais lhe interessa: a do jovem japonês, que conhecera, e a quem efemeramente amara, antes de descolar da Terra. Um sucedâneo, pois, daqueloutra nave enviada há umas dezenas de anos com uma mensagem para a qual Carl Sagan selecionou grande parte do conteúdo e hoje já muito para além de Plutão.
Seguiu-se o filme, que verdadeiramente nos motivou a ver esta sessão: «Balada de um Batráquio». Tratou-se daquele com que Leonor Teles foi premiada há algumas semanas na Berlinale com o Urso de Ouro.
Conhece-se a história pelas muitas entrevistas, que a realizadora deu desde então: em muitos estabelecimentos comerciais das grandes cidades estão expostos uns sapos em cerâmica para vedarem a entrada a ciganos, que possuem uma superstição muito negativa em relação a tais animais. Vai daí a Leonor e outros elementos da sua equipa andaram a entrar inopinadamente nessas lojas para se apossarem dos bichos e partirem-nos fragorosamente à saída. Uma demonstração antirracista, que não deixou de comportar alguns riscos de aborrecimentos com a polícia.
A concluir a sessão, outra curiosidade: «Uzu» de Gaspard Kuentz sobre um estranho ritual cumprido anualmente na ilha de Shikoku no Japão, quando duas forças constituídas por dezenas de homens transportam outros tantos pesados andores e chocam violentamente entre si com perigos evidentes para quem cai e se arrisca a ser esmagado pelas estruturas e pelos pés dos contentores.
Tratando-se de uma festividade com reminiscências nos valores dos antigos rituais, é extremamente bem filmada, porque uma das câmaras vai dentro de um dos andores e capta a violência dos momentos culminantes da liça.
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