É muito natural que tendo sido Oficial da Marinha Mercante entre 1975 e 1999, me sinta muito particularmente interessado em romances, que tenham a vida a bordo como tema. E mesmo no caso de «Every Man for Himself», que Beryl Bainbridge dedicou ao afundamento do «Titanic» esse interesse mantém-se por muito que já julgasse saber quase tudo sobre a tragédia ocorrida no Atlântico Norte em 14 de abril de 1912.
O que procuro neste tipo de romances é, sobretudo, o regresso aos três anos, que integrei a tripulação de paquetes, habituando-me neles a um estilo de vida como o que já dificilmente se encontra em terra. Com maior disponibilidade para usufruir tudo quanto dá prazer e com a contínua novidade de se ir escalando sempre portos diversos.
Com este romance a escritora inglesa foi candidata ao Booker Prize e ganhou o Prémio Whitebread de 1967.
O protagonista é um jovem de 22 anos, Morgan, que pertence à família dos céleres banqueiros do mesmo nome e a viajar no «Titanic» depois de nele ter trabalhado como projetista da canalização das casas de banho do navio, perspetivando a possibilidade de se dedicar futuramente à arquitetura naval.
Pertencente à alta burguesia, conhece toda a alta sociedade, que partilha essa viagem, manifestando os mesmos comportamentos preconceituosos e quantas vezes ridículos, fruto da ignorância com que olha para o dia-a-dia dos representantes do proletariado. Na visita feita à casa das máquinas leva como guia um fogueiro, Riley, que dele troça pelo contraste entre a sujidade reinante e a sua elegante forma de vestir. Ou pela ridícula gorjeta, que lhe atribuiu.
Morgan gostaria de declarar-se a uma socialite chamada Walis, que constitui para ele o símbolo da beleza e da sofisticação, mas fica seriamente dececionado quando a descobre em tórrida relação sexual com um homem mais velho, que chegara a imaginar ter sido o seu desconhecido progenitor. De coração destroçado vai acumulando situações de desnorte, que o arriscam a tornar-se conhecido pela excentricidade do seu comportamento.
Beryl Bainbridge ridiculariza os passageiros da primeira classe ao mesmo tempo, que enaltece a capacidade de trabalho dos que estão cingidos às zonas desconhecidas do navio. E, quando acontece o choque com o icebergue, subscreve o tipo de testemunhos obtidos dos sobreviventes sobre a cobardia de uns quantos passageiros, que tinham lutado pelo direito a salvarem-se deixando para trás muitas mulheres e crianças, irremediavelmente desaparecidas no vórtice suscitado pelo afundamento do navio nas profundezas oceânicas onde só muito recentemente foi encontrado.
Enquanto obra literária não é nenhum primor, mas como entretenimento não esteve nada mal...
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