É um dos temas mais presentes, mas menos referidos da Guerra Colonial: os problemas de relacionamento de quem por ela passou e nunca mais se libertou. O stress pós-traumático está escondido nas paredes dos prédios das nossas cidades, mas raramente sai cá para fora. Quando isso sucede mascara-se de “violência doméstica”, de “crime passional” ou de “zanga entre vizinhos”.
Mas quantos dos crimes, explorados até à náusea pelos meios de comunicação, sobretudo nos que têm uma linha editorial do tipo tabloide, foram identificados como súbitas explosões de brutalidade com origem no que se viveu décadas atrás nos capins africanos? E, mesmo quando não atingem essa dimensão homicida, quanta infelicidade caracterizou as vidas de milhares de casais que, na realidade, padeceram em conjunto desses traumas, porque, na realidade, eles acabaram por ter um efeito de contágio?
É sobre essa realidade que João Paulo Guerra escreveu «Corações Irritáveis», um romance tanto mais sabedor do que trata quanto, além de ter sido um dos grandes jornalistas das últimas décadas, o autor também viveu na pele a experiência dessa guerra sem sentido.
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