Na Conferência dada pelo Prof. Carlos Castilho Pais na Associação Gandaia (Costa da Caparica) esteve em questão algo que raramente valorizamos ao abordarmos a época dos Descobrimentos: quando chegavam a novas terras, onde encontravam gente de outro linguajar, como comunicavam os nossos navegadores? Improvisavam ou preparavam-se para a ocasião?
Segundo o conferencista desde muito cedo que os portugueses sentiram a necessidade de solucionar essa dificuldade.
Enquanto foram descendo a costa ocidental de África não tiveram grandes dificuldades, porque eram muitos os turgimões disponíveis para estabelecerem o contacto oral com as populações contactadas.
A dificuldade passou a ser, quando se chegaram às latitudes onde só existiam linguajares africanos. Mas o Infante D. Henrique arranjou logo expedita solução: organizou o tráfico de escravos - venderam-se os primeiros em Lagos em 1444 - e foi escolhendo entre eles os que melhor se adaptassem à função de “línguas”, o termo escolhido pelos cronistas de então para falaram dos que hoje são tidos como “intérpretes” e abandonando o anterior termo árabe “turgimão”..
Mas se a solução de captura de escravos não bastava, os organizadores das expedições tinham outra alternativa: degredavam os infelizes, que tivessem cometido algum delito abandonando-os em terreno desconhecido na esperança de, na escala seguinte, as caravelas já ali encontrassem quem lhes pudesse assegurar a comunicação com os chefes tribais. Um deles, chamado João Machado, tornou-se língua depois de degredado por se ter tomado de amores por uma sobrinha de um pároco de Braga!
Foi, igualmente, á conta desses “lançados” para a aventura em terras desconhecidas que poucos anos depois do achamento do Brasil já os portugueses contactavam sem problemas com os índios tupis.
Outro dos línguas muito enfatizado pelo Prof, Castilho Pais foi um judeu encontrado por Vasco da Gama em Goa e por ele trazido no regresso a Lisboa para ajudar a preparar as expedições seguintes. Cristianizado com o nome de Gaspar da Gama, ele até terá merecido elogiosa referência de D. Manuel ao Papa, quando este pretendeu valer-se dos seus esforços na evangelização do oriente. Segundo os registos existentes, esse Gaspar da Gama fez quatro viagens de seguida à Índia, sendo sucedido pelo filho, Baltasar, já no tempo de Afonso de Albuquerque.
Em suma, além de elucidar sobre uma vertente menos conhecida dos Descobrimentos, a Conferência abriu janelas para outros temas associados a este, nomeadamente o das travessias por terra em demanda do Prestes João, com Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva a não necessitarem de qualquer apoio linguístico, porquanto ambos eram línguas, expressando-se sem problemas no árabe.
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