Em 2003 Dan Brown andou nas bocas do mundo por causa do «Código Da Vinci». O fenómeno de moda foi tão significativo, que até o mais presunçoso dos intelectuais cedeu à tentação de ler a involuntária luta de Robert Langdon contra os sicários do Priorado do Sião.
Era uma espécie de chiclete literária, mas converteu o quase anónimo autor num bem sucedido milionário. Razão para outros o quererem imitar. Jonathan Freedland, jornalista inglês, foi um deles com este «The Righteous Man», publicado três anos depois do de Brown. E a imprensa britânica logo o promoveu a maior concorrente do antecessor.
A estrutura deste sucedâneo é a mesma do original: há um protagonista transplantado do seu espaço original para outro quase desconhecido, a confrontar-se com duas seitas distintas, cujas crenças radicam nas origens do judaísmo: uns, os hassidícos, vivem na ânsia de ver chegada a hora da revelação do novo Messias, os outros são fanáticos desejosos de um Apocalipse redentor, que limpe a Terra do pecado.
Temos, assim, Will Monroe como um jornalista inglês, agora a trabalhar no «New York Times», e a viver intensa felicidade conjugal com Beth, com quem casou há um par de anos. Ora é ela que, sem nada que o explique, é raptada quando o marido estava momentaneamente a trabalhar em Seattle. Mas não tarda que a origem desse dissabor pareça radicar-se nas reportagens, que ele acabou de assinar sobre os assassinatos de um proxeneta em Nova Iorque e de um membro das milícias anti-governo federal, que grassam nos Estados mais interiores da terra do Tio Sam.
Sucessivamente vão morrendo, um pouco por todo o mundo, outros homens aparentemente comprometidos com formas diversas de delinquência, mas todos eles conhecidos por atos de compaixão para com os mais fracos.
Seriam eles os tais 36 homens justos que, segundo uma crença judaica, suportariam o equilíbrio da Terra, impedindo-a de tombar definitivamente no Apocalipse?
As pistas que Will vai recebendo através de estranhas mensagens de SMS, consolida-lhe a ideia de estar em curso uma conspiração para antecipar o momento do Juízo Final.
A dificuldade de relacionar todos esses crimes com a comunidade hassidica de Crown Heights em Brooklyn, onde Beth está aprisionada, obriga Will a cumprir mais um dos estereótipos do subgénero: arranjar uma rapariga jeitosa, que o ajude nas deambulações pela cidade, muitas vezes sob a forma de loucas correrias para fugir a agressores desconhecidos. Ela é uma pintora, e sua antiga namorada, logo por acaso, nascida e criada na mesma comunidade judaica, o que lhe permite entender o significado das inúmeras pistas recebidas no telemóvel.
A história conclui-se numa surpresa inverosímil, porque Will acaba por descobrir a identidade do líder da seita apocalítica na pessoa do progenitor, um juiz federal cujo percurso público sempre se norteara pela conotação com o mais arreigado ateísmo. E Beth fora raptada pelas melhores razões: grávida do potencial 36º homem justo e possível Messias, estava a ser protegida das intenções homicidas do sogro.
Quando cheguei á última página do livro há muito concluíra que, sendo mau o original, este sucedâneo ainda era pior. Mastiguei-o durante alguns dias e atirei-o fora. Daqui a um par de semanas já nem me lembrarei da intriga e muito menos do título e nome do autor.
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