Sobre o novo filme de Woody Allen, «Café Society» li as críticas mais contraditórias. Houve quem o considerasse um dos piores filmes de um cineasta mais do que esgotado, houve quem o considerasse um dos melhores títulos da sua mais recente cinematografia.
Para mim o juízo é muito simples: pode estar distante do que de melhor dele conheci, mas os seus noventa e seis minutos de duração deram-me um enorme gozo. Não é daqueles filmes, que recordarei facilmente daqui a umas semanas, mas enquanto o fui vendo, o prazer dos diálogos, das interpretações, dos ambientes retro e, sobretudo, da banda sonora , foi constante.
A história é a de um triângulo amoroso: um rapaz judeu vai para Hollywood para ver se o tio lhe arranja emprego na indústria cinematográfica, ao que, contrariado, ele acede. Não tarda que o rapaz se envolva com a secretária desse tio (desempenhado por Steve Carell, depois de substituir um caprichoso e intratável Bruce Willis, despedido da produção), sem sabê-la também sua amante.
Jesse Eisenberg e Kristen Stewart reencontram-se nos ecrãs depois de «Adventureland» em que ela tinha igualmente um romance com um homem mais velho.
Nesse inicio do filme assistimos à recriação da Hollywood dos anos trinta, quando era fábrica dos sonhos, mas também antro de coscuvilhice e de permanentes negociações quanto a elencos e produções. Entregue a uma azáfama incessante, todo esse mundo de atores, realizadores, produtores, argumentistas ou técnicos de cinema não pareciam ter sequer disponibilidade para descansarem um mero instante.
Preterido no coração de Vonnie, que opta por se tornar sua tia, Bobby volta a Nova Iorque para assumir a direção do clube noturno adquirido pelo irmão, um gangster com particular propensão para ir escondendo cadáveres sob toneladas de betão.
O sucesso da sua gestão é imediato: quem é alguém em Nova Iorque só confirma esse estatuto se as páginas das revistas sociais o derem como frequentador do novo local de entretenimento noturno da cidade. É aí que Bobby encontra, igualmente, outra Veronica, com quem se apresta a casar e a ter filhos. O problema é que o tio Phil e a tia Vonnie também vêm passar uma temporada à grande metrópole e Bobby sente o coração palpitar-lhe perante o descontrolado desejo incestuoso de recuperar a antiga paixão.
O epílogo aberto com que Allen decide concluir o filme é inteligente nem pendendo para o happy ending, nem para um desenvolvimento melodramático. É claro que estamos perante entretenimento puro, mas de grande qualidade. Como, de costume, mais vale um título menor de Woody Allen do que quase todos os que com ele competem por espectadores nas nossas salas de cinema.
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