Nunca apreciei particularmente os filmes de João Pedro Rodrigues, porque tentando sempre contornar o preconceito homofóbico facultado pela educação, ainda tenho alguma dificuldade em ver explicitado o ato sexual entre dois homens, quando ele me parece perfeitamente natural entre parceiros hétero. Sobretudo, porque nos filmes que dele vi, o realizador compraz-se na provocação com esse tipo de cenas, que sabe serem incómodas para um público decidido a superar as contingências do seu inconsciente e aceitar o que chegou em tempos a considerar incomum.
Em «O Ornitólogo» - que se irá estrear dia 20 nos cinemas de Lisboa e foi premiado no Festival de Locarno - deverão existir imagens muito bonitas da região do Douro a pretexto do protagonista descer o rio para ir olhando para as aves. Mas os seus encontros irão ter esse lado excessivo, que Rodrigues atribui à sexualidade, que lhe interessa explicitar: duas chinesas em peregrinação a Compostela sujeitam-no ao jogo erótico de o amarrarem e seviciarem, enquanto uns caretos levarão a luxúria até ao banho dourado sobre ele derramado.
Na entrevista a Vasco Câmara no «Ípsilon», Rodrigues também aborda a religiosidade, que não sente mas o fascina, sobretudo porque representada, também ela, de forma inequivocamente erótica em muita da estatuária e das pinturas dedicadas a Cristo na cruz ou a santos martirizados.
Não direi que sentirei a pulsão de ir ver o filme com a pressa assumida para com o «Cartas da Guerra» de Ivo Ferreira, mas ele interessar-me-á na mesma medida em que ia aos de Manoel de Oliveira: procurar resposta para o que haverá nele para agradar tanto à crítica internacional?
É que, com os anteriores, igualmente premiados e muito elogiados nos principais festivais europeus, não vi matéria para tanto entusiasmo...
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