Em 1950 o professor de Harvard, John Brinnin, conseguiu autorização para acompanhar o poeta galês Dylan Thomas durante uma tournée em que este declamaria os seus poemas e os dos poetas por si selecionados a plateias de diversas cidades norte-americanas.
Tão-só o encontra, Brinnin começa a suspeitar da tarefa ciclópica a que se propôs: o admirado guru é um alcoólico inveterado, que transforma em caos todos os sítios por onde passa.
Atendendo ao que sabemos da aura de escritor maldito que se colou a Thomas, adivinhamos o que se seguirá: Brinnin irá de desastre em desastre, sempre a tentar compor o que, no seu rasto, não comporta qualquer remissão, e acabará sozinho e sem emprego, porque ninguém lhe perdoará o vendaval de abjeção, que trouxe consigo. Como o que aconteceu em Yale, junto da seleta audiência de reitores e professores catedráticos a quem Thomas decidiu declamar poemas abertamente pornográficos.
Além de compreender o medo que leva o escritor a recusar-se a ler a carta enviada pela mulher, que nela se queixava da fome em que a deixara juntamente com os filhos, Brinnin revela, muito subtilmente, que o seu fascínio comportava uma inconfessada paixão homossexual condenada à maior das deceções.
O problema com este filme de estreia de Goddard é reconhecer-lhe qualidades bastantes para me interessar - há a fotografia lindíssima a preto-e-branco interpretações credíveis e informação substantiva sobre um escritor importante dos anos 40 e 50 - mas motivos de sobra para me distanciar do seu tema. É que, nem a personalidade de Thomas me suscita a mínima empatia, nem os seus poemas condizem com os que me costumam interessar. E isso também se estenderá a grande parte da produção da beat generation, que se não buscava inspiração criativa no álcool, tratava de a procurar no LSD e outras drogas nas décadas que se seguiriam à morte deste seu precursor em 1953.
Não vejo por isso grande razão para tirar do merecido esquecimento quem já pouco tem a dizer aos leitores do século XXI.
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