Tem sido amiúde disponibilizado no nosso espaço audiovisual este filme de Olivier Julian que, quando estreado nas salas francesas, suscitou um elevado coro de protestos. Na ligeireza com que assume a possibilidade de se criar uma cultura de ser possível viver num ambiente radioativo, ele constitui um lenitivo para os que querem evitar que se ponha em xeque a indústria nuclear.
O tema ganha particular pertinência numa altura em que sentimos próximos os perigos da central de Almaraz que, em caso de acidente, prejudicará todo os ecossistemas até à foz do rio Tejo.
Pode-se reconhecer que a vida em ambiente radioativo só a partir do acidente na central ucraniana, em 1986, é que passou a ser possível de ser estudado em ambiente real. Concede-se, igualmente, a possibilidade de, consoante os ventos e as chuvas, a distribuição das nuvens radioativas ser aleatória em grandes extensões geográficas, mas também em zonas mais circunscritas onde ninguém percebe como o número de becquerels pode ser assustador num sítio e quase nulo noutro apenas situado a algumas dezenas de metros.
O que exasperou os críticos do filme foi o facto de se querer passar a mensagem de virem a existir novos e terríveis acidentes nucleares só faltando clarificar onde e quando ocorrerão. Mas as imagens captadas junto dos samis noruegueses, dos bielorrussos ou dos japoneses, que mais foram atingidos pelos efeitos dos dois acidentes catastróficos dos últimos trinta anos pretendem descansar os mais determinados inimigos do nuclear, mas parecem demasiado tranquilizadoras para parecerem verdade. Nomeadamente quando se minimiza os efeitos da radiação nos corpos humanos, defendendo-se a tese que ele livra-se de tal perigo por si mesmo, tão-só seja exposto a condições e alimentação a salvo de tal risco. Uma médica bielorrussa reconhece ela própria que só o tempo esclarecerá a dimensão dos danos suscitados em quem foi sujeita a tão grave situação.
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