Passado um dia sobre a notícia da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan, eu continuo a não ver a mínima razão para tal consagração lhe ser devida. Embora sinta uma profunda antipatia pela escrita e, sobretudo pela pessoa de António Lobo Antunes, reconheço-lhe infinitamente maior valor literário do que o do cantor norte-americano. E não faltam grandes autores de hoje a quem o prémio ficaria igualmente bem desde os que, noutro texto já citei (Roth, DeLillo) até Joyce Carol Oates, também dos States, ou a Pascal Quignard em França, a Mia Couto em Moçambique ou a Nelida Piñon no Brasil. Se fizesse aqui uma lista encheria páginas a quem, com muito maior justiça, a Academia Sueca poderia ter prestado a devida homenagem.
Mas é curioso verificar como os defensores de Dylan andaram essencialmente a elogiá-lo pelo papel desempenhado nos anos 60 - que ele veio na prática renegar a seguir! - e esqueceram os tais aspetos comprometedores, que há muito me fizeram dele desinteressar: além das ações em empresas produtoras de armamento, foi o sujeito que disse nada lhe interessar na política, quando estavam à porta os anos 70. No entanto, quando Bush Jr. mandou invadir o Iraque, Dylan contribuiu para esse peditório cantando para os militares enviados para o Iraque (e não foi propriamente para os desincentivar a irem!).
Mesmo hoje, quando qualquer artista norte-americano já deu o seu testemunho contra a eventual eleição de Trump, descubram-me uma - apenas uma! - afirmação de Dylan sobre o assunto.
O que não espanta em quem, depois de se ter conotado com a fé católica, andou a proclamar aos quatro ventos, que só se representaria a si mesmo.
Então aonde figura a responsabilidade ética que todo o artista deve assumir perante quem lhe aprecia a obra?
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