Bob Dylan é o Prémio Nobel da Literatura deste ano e eu incluo-o naquele lote de galardoados, que não vi fundamento para tal consagração. Se com Saramago, Garcia Marquez, Grass, Le Clézio ou Modiano - e só para falar dos mais recentes! - a escolha tinha sido mais do que justificada, outros têm havido que não se lhes encontra qualquer razão. E Bob Dylan é um desses casos!
A minha apreciação dos méritos do cantor norte-americano passou de um entusiasmo intenso na juventude, para uma completa indiferença anos depois. Enquanto ele se filiou na tradição dos grandes cantautores da folk music, como Woody Guthrie ou Pete Seeger, os seus poemas eram mobilizadores, transformadores. O seu «the times they’re a changing» eram o reflexo de um período histórico em que estava intensa a luta pelos Direitos Civis dos negros ou contra o empenhamento progressivo do Pentágono na guerra do Vietname. Tudo apontava, pois, que, muito justificadamente, ele se viesse a converter num dos mais importantes ícones da segunda metade do século XX.
Depois as coisas mudaram significativamente: o acidente de mota, que quase o matou, deverá ter alterado seriamente a sua perspetiva do mundo e de tudo quanto o rodeava como se verificava no filme de D.A . Pennebaker em 1967, «Dont’t Look Back».
A voz mudou, os temas deixaram de ter a ver com as lutas do seu tempo, passando a refletir a sua crise mística, e notícias sobre o seu significativo papel de acionista nalgumas das empresas produtoras de material militar também não ajudaram.
Anos setenta adentro ele deixou de me interessar. A minha desafeição da pop music e do rock em geral, incluíram-no, mesmo conhecendo-se notícias de Universidades norte-americanas apostadas em integrar os seus poemas nas cadeiras de Literatura Contemporânea.
A atribuição deste prémio não alterará em nada a minha intenção de lhe devolver a atenção perdida. Com tanto que tenho para ler, dar-lhe-ei a mesma disponibilidade que (não) atribuí a Herta Muller, outra Nobel recente (2009), só galardoada para contemplar os escritores de língua alemã (mesmo sendo romena) e anticomunistas primárias.
Se neste ano a Academia pretendia consagrar um autor americano - até tendo em conta eles terem estado quase ausentes dos demais prémios - então que o entregassem a Don DeLillo, um escritor notável cujo mérito não mereceria qualquer contestação. Ou, em alternativa, a Philip Roth por muito que a sua conhecida misoginia incomodasse uns quantos.
Provavelmente Dario Fo, cuja morte foi hoje anunciada, não terá sabido desta notícia de contar Dylan como um dos seus sucessores no Prémio. Mas se o soubesse, ele que tanto zurziu em Berlusconi e na burguesia ocidental só poderia reagir com incredulidade: «Bob Dylan? A serio?»
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