quarta-feira, outubro 19, 2016

(V) «X+Y» de Morgan Matthews (2014)

Inspirado livremente na vida de Daniel Lightwing, um matemático autista, que ganhou uma medalha nas Olimpíadas da disciplina em 2006, o filme de Matthews está bem concebido por apresentar personagens bastante credíveis, interpretados ademais por talentos seguros como o são Sally Hawkins ou Eddie Marsan nos papéis secundários.
Nathan é um miúdo autista com um enorme talento para a matemática, que o pai estimula até ao dia em que um acidente de viação o mata.
O crescimento do rapaz não se anuncia fácil, sobretudo por não respeitar a devotada mãe, que considera pouco inteligente. Por isso isola-se no seu mundo até contar com o apoio de um professor muito especial que, apesar de demasiado tentado à autocomiseração devido aos progressivos efeitos da esclerose múltipla, o prepara devidamente para que venha a concorrer a uma vaga na equipa britânica das Olimpíadas de Matemática desse ano.
Em Taipé, onde estagia com os demais candidatos à competição, Nathan conhece Zhang Mei, a sobrinha do responsável pela equipa chinesa, com quem começa a ter uma relação de proximidade cada vez mais profunda. Até que, já em Cambridge, na véspera da competição para que ambos estão selecionados, o tio dela os surpreende juntos na cama e desencadeia o escândalo. A rapariga regressa a casa sem competir e Nathan ainda entra na sala do exame, mas dela sai subitamente tentado a ir-lhe no encalço.
A mãe que nunca deixara de procurar a forma de conseguir eliminar a distância, que ele entre ambos impunha, secunda-o nesse objetivo, porque o Amor acaba por ser bem mais importante que a matemática.
Para a história verdadeira resta dizer que o Daniel Lightwing casou, de facto, com uma colega chinesa dessa competição de 2006, ocorrida na Eslovénia, mas entretanto já se separaram.
Se alguns apontam erros de palmatória à realização - por exemplo a impossibilidade de conjugar o arco-íris com que Zhang Mei se extasia sobre os verdes campos ingleses com a direção da iluminação que a banha - o filme só se torna mais complicado de seguir nos problemas de matemática aí enunciados, quase sempre a parecerem-nos esdrúxulos na sua formulação.
Mas que importa? O que sobressai é um conjunto de questões, que têm a ver com a potenciação do talento dos jovens autistas, a solidão das mães capazes de todos os sacrifícios para os apoiarem e o combate de quem sofre de esclerose múltipla para não se deixar vencer por paliativos piores do que a própria degenerescência do doença.


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