domingo, outubro 30, 2016

(I) A eternidade e mais alguns dias

A eternidade ou a sua busca é o que Proust persegue com o seu episódio das madalenas, um dos mais conhecidos da sua volumosa obra. É essa inesperada projeção no passado, que permite viajar à procura do tempo perdido, porque o seu resgate significa viver-se no presente, mas também em cada um dos momentos vivenciados outrora e que o mero mergulhar de um pequeno bolo numa tijela de chá traz à memória na sua luz, odores e sons, ou seja, em tudo quanto de então percetível ou não, ficou associado a tal momento.
O personagem entediado, que descobre, subitamente, essa porta para o passado, não a quererá mais fechar, por descobrir um dos princípios da Física mais explorados pela Ficção Científica: estaremos aqui neste binómio do espaço tempo, mas continuamos igualmente vivos noutros, que hoje consideramos passado, ou nos que ainda estaremos por descobrir no futuro?
Proust liga-se, então, a Kurt Vonnegut no seu matadouro 5, logo transmutado nessa Tralfamadore onde o peregrino Billy descobre verdadeiramente a essência do Amor.
Se o escritor francês concluirá que o mais importante na vida é a Arte, o norte-americano dá primazia ao Amor. O tempo julgado perdido poderá ser afinal o do reencontrado e revivido. E essa é a melhor hipótese de se julgar possível a eternidade, que a Razão e a nossa completa aversão a Deus, inviabiliza.


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