Há onze anos o «Crash» de Paul Haggis conseguiu o Óscar do melhor filme graças a um argumento construído segundo a lógica do mosaico: diversas personagens, que seguem percursos paralelos até se encontrarem mais tarde ou mais cedo na sequência das respetivas ações. Desde então o recurso a essa estratégia narrativa, apesar de tudo bastante mais antiga do que esse exemplo, passou a ser utilizada exaustivamente por outros argumentistas como modelo a imitar.
«Disconnect», rodado em 2012 por Henry Alex Rubin segundo argumento de Andrew Stern, é um exemplo paradigmático desse género de filmes. Agarram-se em doze personagens infelizes com as respetivas vidas, sujeitam-nos a infernos ainda mais desesperantes e, no fim, vemo-los encontrar alguma luz ao fundo do túnel, quando as crises em que mergulharam parecem ter encontrado a catarse possível.
Há uma repórter numa estação televisiva local, que imagina-se já na CNN à conta de uma reportagem em que se infiltra no mundo da pornografia infantil. Os louros provisórios dão lugar a problemas com o FBI e com o empregador, sem conseguir sequer livrar desse beco sem saída o rapaz, que lhe servira de cobaia. Pelo contrário ele despede-se com a raiva de ter tido nela, não a confidente maternal por que ansiara, mas a traidora, que quase lhe fizera perder o frágil sustentáculo em que sobrevive.
Há um par de miúdos, que se diverte a fazer partidas a outros com a parvoíce própria da adolescência. Mas, quando a brincadeira se transforma numa forma de bullying, que atira com a vítima para uma tentativa de suicídio de efeitos provavelmente irremediáveis, é o inferno pessoal que têm por garantido, porque não só são descobertos pelos pais, como os veem bater-se por dores, que eles próprios provocaram.
E há, ainda, um casal incapaz de comunicar desde a morte do filho, ainda bebé. A internet serve-lhes de refugio, ele para jogos de cartas a dinheiro e ela para conseguir conversar num chat com quem vive luto igualmente doloroso. Por um ou por outro há quem lhes roube toda a informação sobre os cartões bancários e os espolie do escasso dinheiro, que têm. A vingança sobre quem lhes dizem ter sido o culpado parece ser a forma de começarem, enfim, a comunicar. Mas estão quase a cometer o crime, quando os avisam de serem tão vítimas dos autores da fraude, quanto a potencial vítima que pretendem matar.
No conjunto das três histórias, que se entrecruzam, temos famílias incapazes de comunicar e por isso vivendo cada um dos seus elementos estratégias distintas, mas sempre ineficazes, para combaterem a solidão. E se o melodrama se adocica perto do final não deixa de constituir alerta importante para quem usa e abusa do mundo digital sem se aperceber dos riscos a ele associados.
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