O grande interesse deste filme austríaco, já apresentado no Festival de Veneza antes de passar no DocLisboa, é perspetivar os possíveis futuros da arte cinematográfica, tendo em conta a substituição do celuloide pelo digital e a possibilidade de muita da nossa memória audiovisual registada no anterior suporte vir a desaparecer, a perder-se.
A questão é, para mim, tão pertinente quanto é certo que vi desaparecer o Super 8 em que rodei os primeiros filmes e tenho centenas, senão mesmo milhares de cassettes de VHS em que conservei muita da memória cinéfila pessoal e imagens onde a família se expôs em momentos distintos da sua biografia. E que devir conhecerão os milhares de DVD’s em que tenho cumprido o desejo adolescente de possuir uma Cinemateca particular?
O filme de Palm não tem, pois, o olhar o cinema como tema, mas o de o preservar para o futuro. Viajando pelos vários continentes, o realizador vai indagar qual o estado da conservação das memórias de diferentes culturas e como as preservar quando os discos rígidos para onde eventualmente se consigam transitar em ficheiros muitas dessas imagens analógicas, também se tornarem obsoletos. Por isso entrevista cineastas e arquivistas, filósofos e historiadores, curadores de museus e outros artistas.
O realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul é, porventura, um dos entrevistados menos preocupados com a questão, porque considera que, a exemplo das nossas próprias vidas, temos de aceitar a perenidade das imagens do nosso presente ou passado. É estulta a preocupação em fazer com que um filme dure para sempre. Mas Palm defende que os filmes não valem apenas pelo que representam da altura em que foram rodados, porque condicionam igualmente as possibilidades e potencialidades do futuro.
Há, pois, um tom de nostalgia pelo que se irá inevitavelmente perder, mas também um enorme amor ao cinema desejavelmente eternizado.
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