Ao ver «Em Câmara Lenta» tenho de concluir o que já venho intuíndo há muito: a geração de Fernando Lopes foi extremamente importante para, com o seu «Cinema Novo» criar uma filmografia específica, que viria a interessar públicos de muitas outras latitudes, mas acabou remetida a um crepúsculo já sem comparação com o dinamismo revelado por muitos dos sucessores, que agora estão a despontar.
Agradeceremos sempre a Fernando Lopes o «Belarmino» e a «Abelha na Chuva», que demonstrariam a possibilidade de um outro cinema diferente do das comédias néscias de Constantino Esteves ou dos arroubos patrioteiros de Perdigão Queiroga , que eram o espelho do que o Estado Novo ia possibilitando como seu testemunho cinematográfico.
Nesse sentido convergia com Paulo Rocha, Cunha Telles, João César Monteiro e outros na tentativa de desenvolver o esforço meritório, que anteriormente Manuel Guimarães tentara concretizar. Quanto a Manoel de Oliveira, perdoem-me os seus defensores, nunca me convenceu por aí além, quer no talento, quer nos pressupostos ideológicos, que sempre norteariam a sua obra.
«Em Câmara Lenta» sente-se o esgotamento da verve dessa geração, que costumava reunir-se no «Vává» nos anos sessenta. O próprio protagonista, Santiago, dá conta dessa chegada ao fim da linha. Os seus mergulhos no oceano, sempre a levarem-no mais longe, possibilitam-lhe o balanço quanto ao seu relacionamento com as mulheres e os amigos. Ele é o derradeiro sobrevivente de uma geração marialva que entendia bastarem duas quecas semanais para manter satisfeita a mulher legítima, e por isso poderia dedicar algum tempo à amante, sem contudo lhe assegurar a dedicação por ela necessitada.
É também por isso mesmo um filme com a morte omnipresente: a do irmão, que se estampara com o carro em noite que Santiago lamenta não ter sido suficientemente persistente para o levar a casa, ou de Constança, que lhe exige tudo, sem quase nada receber, e por isso decide tomar a cicuta no culminar de um jogo erótico em que só tardiamente ele compreende os limites irreversivelmente ultrapassados.
Há também as bebedeiras, as meninas dos bares de alterne e uma solidão que não tem remissão.
Terá sido das mais curtas longas metragens de Lopes, pois mal chega aos setenta minutos, mas fica a ideia de que o realizador não tinha arquejo para muito mais.
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