Este não está a ser um fim-de-semana muito auspicioso para o invejoso de Benfica. Ver António Costa e Pedro Sanchez a celebrarem Saramago em Lanzarote e repetindo-se a evocação do nosso Nobel hoje na Azinhaga, deverá pô-lo a morder-se de raiva. Ademais este ano nem sequer pode sonhar com o seu inacessível unicórnio dada a decisão de não ser atribuído o respetivo prémio pela Academia Sueca.
Pessoalmente, se o Nobel voltar a galardoar um autor de língua portuguesa a minha preferência vai para Mia Couto, cujos romances merecem tal distinção. Mas, se o quisessem atribuir a um autor português apostaria em Mário de Carvalho, cuja prosa me continua a agradar muitíssimo. A longa carreira de trinta livros publicados desde a estreia em 1981, com os «Contos da Sétima Esfera», tem-nos propiciado riquíssimas experiências como seus dedicados leitores. E, ao invés da pedantice bacoca do invejoso, ele adota uma tal relativização de tudo quanto são os cânones, que lhe devemos o guia prático da escrita de ficção intitulado «Quem Disser o Contrário é porque tem razão» em que desmascara a inocuidade dos muitos especialistas em escrita criativa. Nas trezentas páginas de reflexões sobre o ato de escrever ele constata que “pensar que se fica apto a escrever depois de ler um compêndio de escrita criativa é o mesmo que julgar se passa a dominar uma língua após ter comprado um dicionário” ou que “depois do futebol [a literatura] é, provavelmente, a arte mais bem fornecida de peritos.”
Denotando uma erudição, que nada tem de pretensiosa, o livro de Mário de Carvalho enquadra-se bem na bibliografia de um autor que confessa ter criado «Casos do Beco das Sardinheiras» com o riso a moldar-lhe permanentemente os lábios. E, se nós leitores, bem gargalhámos com essas estórias onde concluímos pela grande diferença entre género humano e ... Manuel Germano! Que é a mesma afinal, que distancia Saramago do despeitado, que o odiou!
1 comentário:
Tenho de ler Mário de Carvalho, vai já a seguir.
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