terça-feira, outubro 09, 2018

(DIM) O que os outros disseram de Ingmar Bergman (I)


Porque estamos no ano do centenário do nascimento de Ingmar Bergman, o Cineclube Gandaia revisita-lhe a sua através de quatro dos seus títulos mais representativos. Depois de «Um Verão de Amor», teremos «O Sétimo Selo» nesta quinta-feira, seguindo-se «Persona» e «Sonata de Outono» nas semanas seguintes.
Igualmente motivada pela efeméride comemorativa, a Cinemateca francesa publicou, na sua página online, uma súmula das opiniões de muitos realizadores e atores sobre a sua importância. Porque se  trata de uma vasta resenha de opiniões, aqui as traduziremos em sucessivos posts:
Jean Luc Godard:
“É preciso ter visto «Mónica e o Desejo», nem que fosse por esses minutos extraordinários em que Harriett Andersson - antes de se deitar com um tipo, que começara por rejeitar -, olha fixamente a câmara, os olhos sorridentes e desconcertados, como que a fazer do espectador a testemunha do desprezo por si própria ao optar involuntariamente pelo Inferno contra o Céu. É o plano mais triste da História do Cinema. Um filme de Ingmar Bergman é, se se quiser, um vinte e quatro avos de segundo que se metamorfoseia e se prolonga por hora e meia. É o mundo entre dois batimentos de pálpebras, a tristeza entre duas pulsações do coração, a alegria de viver entre dois bateres de mãos.”
François Truffaut:
“Um Verão de Amor» marcou-me: foi o filme que me deu a sensação de ser possível que qualquer um de nós pudesse escrever diálogos para filmes, ou que, pelo menos, eu poderia fazê-lo. Prevalecia a naturalidade: reescrever o que dizemos no dia-a-dia, o que se ouviu. O que é curioso é ter sucedido num filme sueco com legendas em francês, porque poderia ter ficado chocado se o tivesse constatado nos filmes de Renoir de quem conhecia de cor a musicalidade das frases.
Foi definitivamente «Um Verão de Amor» que desencadeou em mim essa vontade. Disse a mim mesmo: «Afinal serei capaz de escrever cenas amorosas!» «Mónica e o Desejo» viria a ser fundamental para «Os Quatrocentos Golpes» de que constituía a versão feminina.  Foi ele que mo estimulou, porque não sou daqueles que tudo inventam, que partem do zero.”
Jacques Rivette:
“Não sou um crítico, mas também não sou um admirador incondicional de Ingmar Bergman. Admiro-o imenso, mas qualquer um que parte da própria vida para escrever fabulosos argumentos tem um lado de Dr. Jekyll e de Mr. Hyde, que não consigo compreender como funciona. É uma outra forma de se ser.”
Eric Rohmer
“Bergman coloca-se de fora de qualquer categoria moral ou da sua prática. Não é o sucesso, mas a felicidade, a permanência de uma forma de se ser feliz que constituiu o seu estudo. Buscando encontrar a eternidade no instante, o absoluto na sensação, acaba por ser contraditório: o custo do instante é ilusório, mas não há felicidade senão nesse efémero momento. E o problema é sabermo-lo ilusório.”
Françoise Fabian
“Bergman ocupa um lugar fundamental no meu panteão pessoal. Este realizador, um dos gigantes, analisou a personalidade feminina de uma maneira extraordinária. Quando vi «Sonata de Outono», pensei que o papel de Ingrid Bergman deveria ter sido para mim”.

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