domingo, outubro 28, 2018

(DIM) «Churchill» de Jonathan Teplitzky (2017)


Nunca fui um entusiasta de Winston Churchill, personalidade histórica a quem alguns dedicam uma admiração quase canina. Se mostrou admirável coragem durante o «Blitz», liderando a Inglaterra como único país da Europa Ocidental a escusar-se à rendição contra os poderosos exércitos nazis, tinha um passado comprometedor com demonstrações de irresponsabilidade e insucessos, o mais clamoroso dos quais terá sido a estratégia gizada para a batalha de Gallipoli.
O filme de Teplitzky vai buscar precisamente a má consciência de Churchill em relação a essa derrota durante a Primeira Guerra Mundial para justificar o receio, que lhe merece a Operação Overlord, pela qual os Aliados preparam-se para desembarcar nas costas da Normandia. Sentindo-se figura decorativa no papel de primeiro-ministro, sem poderes efetivos relativamente aos militares, que deveriam responder perante ele e só acatam ordens de Eisenhower, Churchill tenta frustrar o intento do general norte-americano, pretextando a má preparação, o risco de tudo apostar numa faixa estreita da costa francesa e da inevitabilidade das muitas vítimas entre os jovens atirados para a frente de batalha.
Irascível, a todos indispõe, incluindo a esposa, Clementine que chega a ponderar a definitiva separação. Só a ordem real para que fique sossegado, a manter as aparências de um poder mais virtual do que efetivo, o faz tolher-se na dinâmica de confrontação com as chefias militares.
O filme peca, porém, por muito mais do que pelos erros históricos, que os prosélitos de Churchill logo avançaram. É que, se eles existem, nem o realizador, nem os seus críticos, dão relevância ao motivo maior de Eisenhower para lançar-se numa aventura militar em que só a sorte lhe permitiu celebrar vitória: os Aliados ocidentais tinham a noção da rapidez com que o Exército Vermelho avançava na Frente Oriental. Ora, atendendo a que, em Itália, os avanços das suas tropas estavam a ser dificultados pela determinação nazi, o mais certo seria chegarem a Berlim muito depois dos subordinados de Estaline. A única hipótese era tomarem o atalho francês, que os aproximaria mais da capital alemã do que se esperassem pela evolução dos acontecimentos no território transalpino. Que importavam os milhares de mortos nas praias normandas se a viragem definitiva do curso do conflito na Frente Ocidental seria fundamental para conter o aliado soviético, já a ser encarado como o inimigo da Guerra Fria que se seguiria? Mas esta é a versão da História, que os suspeitos do costume nunca sequer ponderam...

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