quinta-feira, outubro 25, 2018

(DL) Quando o ar fica irrespirável


Se em anos recentes tornou-se moda o policial de origem escandinava, outras geografias andam a propiciar alternativas interessantes para os cultores do género, tanto mais que, como reparava uma autora nórdica, em entrevista recente a João Céu e Silva, já andamos saturados de histórias que começam, invariavelmente, pela morte de uma mulher ou de uma criança.
Qiu Xiaolong revela-se interessante alternativa tanto mais que ainda não lhe conhecemos tradução portuguesa, que no-lo torne mais reconhecível.  Exilado nos Estados Unidos, onde se instalou depois dos acontecimentos de Tian’anmen, não devemos esquecer a ideologia subjacente à sua forma de ver o país natal, nem de ser-lhe difícil contornar as memórias do o pai a ser supliciado pelos Guardas Vermelhos no final dos anos sessenta e dele próprio ter passado pelo processo de «reeducação», mas a prosa é escorreita, servida por uma narrativa bem carpinteirada.
O inspetor Chen, protagonista dos seus romances, não está bem visto pelos responsáveis do Partido: levando muito a sério o trabalho ele só pretende identificar os autores dos crimes graves, que é chamado a esclarecer, independentemente dos prejuízos, que as conclusões possam suscitar para quem possui da autoridade uma conceção mais própria dos tempos do Império do que de um regime dito comunista. Por isso este romance começa com ele mais ou menos colocado na prateleira, só não sendo dela removido para o despedimento, porque o prestígio ganho com casos anteriores, tornaria impopular essa decisão.
Em «Chine, retiens ton soufflé» temos a grande metrópole de Xangai tão acossada pela poluição, quanto a já conhecida em Pequim. Apesar da instalação de ineficientes purificadores de ar a população sofre os efeitos das partículas inaladas quase sem delas se dar conta. Ora, a par de uma sucessão de crimes perpetrados por um serial killer a coberto do nevoeiro engendrado nas primeiras horas matinais por essa crise ambiental. Chen é, igualmente, incumbido de investigar as atividades de uma ecologista com crescente apoio na net e que insurge-se contra a inoperância governamental para resolver o problema.
Temos, assim, duas investigações, que correm em paralelo e, obviamente, acabam por se cruzar...

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