A realizadora explicou em texto o que pretendera com «Sud»: “Este filme duro, heterogéneo, rodado no Sul dos Estados Unidos, é, á sua maneira, um eco e um contraponto de um outro filme que rodara no início dos anos 90 na Europa do Leste. É uma viagem durante um verão quente e húmido, às vezes capaz de nos desorientar. Nessa viagem, e assombrando-a, há o crime cometido contra James Bird Jr.
Não se trata da autópsia desse linchamento de um Negro por três jovens suprematistas brancos, mas antes como ele se insere numa paisagem tanto mental, como física. Como o silêncio pode parecer pesado e ameaçador. Como as árvores e toda a natureza podem evocar a morte, o sangue, a maiúscula História e a que se inscreve na sua minúscula.
Como é que o presente evoca o passado? Como é que esse passado pode assustar, quando se dá com um campo de algodão deserto ao virar de uma curva na estrada? Como é que um gesto ou um olhar ainda podem suscitar calafrios?”
Num filme com longos travellings pela paisagem de uma zona rural do Texas ficamos a conhecer as circunstâncias de um crime hediondo. O que o causou? O racismo larvar do passado dos tempos anteriores ao Movimento pelos Direitos Cívicos ainda está enraizado? Ou porque as indústrias, que a quase todos empregava, se deslocalizaram, deixando como lastro as frustrações dos que. nessas alturas, apontam como bodes expiatórios os que ainda são mais miseráveis? O filme de Akerman mostra o problema, deixa em aberto as causas e os efeitos...
Sem comentários:
Enviar um comentário