domingo, outubro 07, 2018

(DIM) Vincent Lindon continua a ser soldado da guerra decisiva


Na época em que Vincent Lindon era o namorado oficial de Caroline do Mónaco e aparecia frequentemente nas revistas cor-de-rosa, não imaginava que o viria a considerar um dos atores franceses mais interessantes, um daqueles casos em que sabê-lo a interpretar um qualquer filme é motivo bastante para me disponibilizar a vê-lo. Porque, embora nascido na burguesia, ele tem interpretado papéis de uma intensa humanidade, desde o do treinador de natação, que prepara um miúdo refugiado para que tente a travessia do canal da Mancha, até ao segurança de uma grande superfície a contas com a contradição entre ser ele próprio - solidário e generoso com os mais desvalidos - ou a pele de polícia, que lhe querem impingir.
Anuncia-se agora outro título promissor - «Em Guerra» - no qual desempenha o papel de líder sindical numa fábrica em vias de fechar. É a luta de classes pura e dura, que confirma o seu gosto por ajudar a clarificar. Porque é preciso que os espectadores reflitam sobre a desigualdade de meios entre o capital e o trabalho e, mesmo arriscando sucessivas derrotas, nunca se justifica desistir de ganhar. Porque, feita de muitas batalhas, é na final, na decisiva, que tudo se decidirá. E essa, a da vitória definitiva sobre um sistema odioso e moribundo, acabará por ocorrer.
Interessante, igualmente, o método de Lindon na criação dos seus personagens: enjeitando totalmente o método do Actor’s Studio, recusa meter-se numa fábrica durante três meses para saber tudo. O que lhe interessa “é reagir no momento. É isso que faz a verdade da vida. Quando se fazem filmes próximos da vida, gosto de trabalhar da mesma maneira que se vive.” Porque, no dia-a-dia, não nos preparamos para nele agir de acordo com prévia preparação. As nossas atitudes são ditadas pelas circunstâncias de cada instante. E é isso que torna mais credível o desempenho de Lindon como ator.

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