sexta-feira, outubro 26, 2018

(MP) A importância de compreender o Outro (desde que não seja fascista ou fanático religioso)


Numa altura em que o fascismo avança em tão díspares extensões geográficas, faz sentido uma conferência - datada de março de 2015 - em que Boris Cyrulnik e Edgar Morin discutem a compreensão do Outro.
O que hoje ocorre com o discurso de ódio dos aprendizes de ditadores  tem a ver com a sua incapacidade para percecionarem os que se lhes opõem, e deles colherem a representação dos valores e anseios. Teoricamente deveria ser competência adquirida, porque acessível a qualquer criança de quatro anos. As experiências científicas mostram como elas são capazes de resolver problemas mentais, saindo de si mesmas e colocando-se no papel dos que as estão a desafiar.
O problema é que um fascista desaprende essa capacidade, negando a existência dos que pensam de forma diferente. Não é por acaso que o jagunço brasileiro está suportado em igrejas evangélicas, que convencem os prosélitos da sua exclusiva razão quanto à forma como se explica o mundo, reduzindo os demais a blasfemos pecadores, sujeitos ao Inferno, senão no Céu, pelo menos na Terra, aonde passam a ser alvos preferenciais dos seus agentes terroristas. Entre os evangélicos brasileiros e os fanáticos do Daesh a diferença é de pouca monta: a oportunidade ainda não deu aos primeiros os meios que os segundos tiveram no seu efémero Califado.
Para os fascistas e fanáticos religiosos a Utopia consiste em esmagar qualquer alteridade. Ora, de acordo com Cyrulnik, essa é característica típica dos psicopatas. E está a propagar-se pelo mundo todo com assaz perigo.: há uma linguagem totalitária a silenciar quem não pensa de acordo com as certezas desses convencidos.
Ora, voltando ao tema da conferência, compreender o Outro é respeitá-lo nas suas diferenças, tentando entender-lhe o sentido, o significado e orientação dessa alteridade. É fundamental uma cultura de diálogo, mas os fascistas andam a impedi-lo através do insulto fácil e da aposição de etiquetas, que pretendem impor como desqualificadoras. Potenciam-se assim os fenómenos xenófobos, homofóbicos e racistas.
Numa época em que a ciência tende a demonstrar como as certezas são sempre relativas - uma verdade só o é enquanto não vier a ser desmentida por outra mais consonante com o ditado pelas experimentação! - os movimentos políticos totalitários vivem de certezas, cuja falsidade é óbvia, exceto para os seus deploráveis apoiantes.
Faz sentido o que dizia Adorno: aquele que julga ter compreendido tudo, só mostra nada ter entendido. As certezas dos fascistas e dos seguidores acríticos das religiões só travam o pensamento, impedem-no de ajuizar. Ora é essa capacidade para tudo questionar numa dialética entre o verdadeiro e o falso, que melhor define o Ser Humano com maiúscula. A obediência a líderes, supostamente iluminados, só pode reduzir a escravos quem os segue...

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