segunda-feira, outubro 01, 2018

(DIM) Ingmar Bergman no centenário do seu nascimento (III)


Entre 1961 e 1963 Bergman realiza uma trilogia sobre o “o silêncio de Deus”: «Através do Espelho» (1961), «Luz de Inverno» (1962) e «O Silêncio» (1963). Nos anos seguintes a sua atividade tem maior enfoque no Teatro Real Dramático de Estocolmo, nele montando «Quem tem medo de Virgínia Woolf?» de Albee, «Hedda Gabler» de Ibsen e «Escola das Mulheres» de Molière.
O regresso aos ecrãs ocorre com um dos seus mais celebrados títulos - «Persona» - que abordaremos na sessão do Cineclube Gandaia do dia 18 de outubro.  Em Portugal ele estrearia anos depois - tanto quanto me recorde no saudoso Cinema Londres! - quase ao mesmo tempo que «Vergonha», um dos dois títulos assumidos em 1968. O outro fora «A Hora do Lobo».
A televisão sueca passa a produzir-lhe filmes que, criados para o pequeno ecrã, acabam por ganhar vida nas salas de cinema. Foi o que aconteceu com «Ritual», realizado em 1967, mas estreado só em 1969.
O fascínio pela ilha de Farö, onde passara a viver com Liv Ullman, leva-o a realizar um documentário muito pessoal sobre aquele que seria doravante o seu refúgio de eleição. Até porque a atração por Hollywood restringe-se a «O Amante», filme de 1971, que pouco conta no conjunto da sua filmografia.
Melhor viria a ser «Lágrimas e Suspiros», título de 1973, que contava com as principais atrizes de alguns dos seus melhores filmes: Harriet Andersson, Ingrid Thulin et Liv Ullmann. E seguiram-se os seis episódios de «Cenas da Vida Conjugal», encomendados pela televisão sueca, mas com uma montagem de quase três horas para cinema.
Em 1974 encomenda semelhante levou-o a adaptar a «Flauta Mágica» de Mozart, naquela que terá sido uma das mais felizes adaptações de óperas para a abordagem cinematográfica.
Em 1976, quando ainda «Face a Face» estava a percorrer o circuito europeu de distribuição cinematográfica, chegou a notícia da sua prisão sob a acusação injusta de ter cometido fraude fiscal. Hospitalizado por efeito de uma depressão grave, anuncia a partida para o exílio. O título seguinte, «O Ovo da Serpente», constitui um reflexo dessa sensação íntima de injustiça, apesar de situado na época da ascensão do nazismo, mas os espetadores e a crítica votaram-lhe imerecido desprezo.
Ilibado das acusações, que tanto o haviam mortificado, volta a Farö em 1978 e roda «Sonata de Outono», igualmente refletindo-se na disputa entre uma filha e a mãe, reencontrada após anos de separação, algo da sua própria situação com o país que o destratara.
Embora «Da Vida das Marionetas» (1980) seja interessante, é o filme seguinte - Fanny e Alexandre» (1982) - a suscitar o reencontro com o que de melhor nos legou. Num registo autobiográfico, Bergman despede-se do cinema, com o que terá parecido um testamento definitivo. Seguir-se-ão muitas encenações teatrais, telefilmes  e um livro de memórias («Lanterna Mágica»).
Bille August e Liv Ullman também realizarão argumentos por ele preparados e galardoados com importantes prémios internacionais, que lhe deveriam caber por direito.
O último telefilme - «Sarabanda» (2004) - justifica igualmente distribuição cinematográfica, tanto mais que surgia como um complemento testamentário a «Fanny e Alexandre». 
Em 2007 anunciava-se a sua morte, quando já quase nunca abandonava a sua amada ilha.

Sem comentários: