quarta-feira, outubro 31, 2018

(DL) «Salina - Les trois exils» de Laurent Gaudé


Dos lados da montanha Tadma, onde nunca se atrevem a arriscar ir, os Djimbas ouvem a chegada de um cavaleiro, que traz consigo um bebé a chorar. Não lhe conhecem os trajos, nem os adornos, mas não têm sequer tempo para disso indagarem. O homem deposita o embrulho no espaço central em torno do qual as tendas se armaram e desaparece tão rapidamente como chegou.
O que fazer?, perguntam-se os estupefactos visitados. O bebé não cessa de gritar, mas Sissoko, o chefe da tribo ordena contenção. Não sabe se a criança será portadora de alguma maldição.  Por isso, que o sol escaldante a mate para que lhe façam um enterro respeitoso.
A criança mostra-se, porém, mais resistente do que esperavam e nem as hienas, que vêm rondar o acampamento, quando a noite cai, se aproximam o bastante da possível presa para consigo a levarem. É nessa altura que Mamambala a agarra e a aproxima do seio para se ver sugada com voracidade. Será ela a dar nome à rapariga, doravante ao seu cuidado.
Passam-se muitos anos e Salina conhecerá muita violência, amiúde o luto de quem amou e ver-se-á desprezada como feiticeira. Tem um filho, Malaka, e é ele quem, vindo uma vez mais de uma viagem pelo deserto enquanto membro de uma caravana, a encontra à beira da morte. Impõe-se então contar aos demais a história da mãe, que se estenderá por dez capítulos. Se o sofrimento sempre terá sido a sua companhia fazer dela uma lenda constitui para a forma de a compensar, de lhe garantir o devido reconhecimento nos últimos instantes de vida.


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