Por estes dias estreia-se em Almada «A Boa Alma de Setchuão» de Bertolt Brecht, que o dramaturgo alemão escreveu nos alvores da Segunda Guerra Mundial.
Oitenta anos depois dessa criação a peça continua plenamente atual, não só porque o mundo volta a parecer tão sombrio como o era então - quando os nazi-fascismos pareciam predominar na cena política internacional -, mas também por haver quem muito duvide se, num mundo onde os piores defeitos humanos parecem erradicar quaisquer intenções de solidariedade, ainda se pode ser bom? Será que, perante a criminosa forma como os refugiados vão morrendo no Mediterrâneo, ou no Sahara ou como os pobres parecem cada vez mais afastados das riquezas, que aproveitam a um número progressivamente menor de beneficiados, ainda se pode olhar à volta e revelar a generosidade por quem sofre?
A peça de Brecht não é luminosa no seu desenlace, mas compreende-se que, apesar de comunista, o escritor alemão olhasse para a dimensão dos inimigos e os julgasse bem mais poderosos do que viriam a revelar-se. Afinal, quatro anos depois de escrita, o bunker incendiado de Berlim ou o cadáver de Mussolini pendurado de cabeça para baixo, mostravam a rapidez com que os poderosos podem tombar.
Apesar de haver quem me considere demasiado otimista, ainda espero ver um mundo melhor a substituir-se a este, por muito que bolsonaros e trumps nos queiram fazer crer do contrário. A História sempre se revelou cíclica e, após ameaças apocalíticas, a esperança tem renascido qual fénix pronta a livremente voar em céus novamente azuis...
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