quinta-feira, outubro 04, 2018

(DIM) «Um Verão de Amor» de Ingmar Bergman (1951)


A iniciar a homenagem que o Cineclube Gandaia faz a Ingmar Bergman no ano do centenário do seu nascimento, temos «Um Verão de Amor», aquele que Jean Luc Godard considerou ser, há sessenta anos, “o mais belo dos filmes”.
Rodado em 1950, mas estreado em 1951, era a décima longa-metragem do realizador, mas verdadeiramente aquela em que o seu talento começava a emergir: “Pela primeira vez tinha a sensação de trabalhar de forma original, com um estilo só meu. Tinha a impressão de estar a criar um filme que ninguém poderia imitar, diferente de qualquer outro. Era o meu filme do princípio ao fim”.
Surgem nele os temas e as obsessões que Bergman abordaria doravante, até na partida de xadrez, que já prefigura o que virá a ser «O Sétimo Selo». Mas também reconhecemos os morangos silvestres, os palhaços proféticos, a natureza insular e elegíaca e a angústia de um mundo sem Deus.
Há também a afirmação da Mulher forte - mas simultaneamente frágil! - que aqui replica a notável Gun Grut, jornalista com quem Bergman vivia por esta altura uma das suas assolapadas paixões.
Logo de início os homens preparam a entrada em cena de Marie, uma admirada bailarina, que se prepara para mais uma interpretação do «Lago dos Cismes». Mas, quando ela nos aparece no camarim é para nos revelar o quanto lhe dói a alma, sobretudo por sentir desaparecerem-lhe os traços da juventude. O rosto parece ter 45 anos, o corpo 17, mas a idade real é 28.
O desafio para Bergman era encontrar a forma de representar o íntimo da personagem, os seus sentimentos. Consegue-o através das reminiscências, que são mais do que um flash back de quanto vivera no final da adolescência, porque lhe surgem como reflexos desse passado. O pretexto é o diário íntimo de Henrik, o namorado de então, com quem aprendera a arte de amar. Mesmo que ensombrecida pelo assédio venal do tio com quem passava esse verão.
O caderno, que aparece no início do filme, e é tido como o desse jovem, que tão importante fora para Marie, era na realidade o do próprio Bergman, que, aos 15 anos, nele anotara as suas primeiras paixões num verão passado na ilha de Dälaro, onde este filme seria rodado.
Embora merecesse meios de produção muito reduzidos - a rodagem ao ar livre poupava nos custos com a iluminação e com a maquilhagem! - «Um Verão de Amor» é um belíssimo ponto de partida para, durante todo o mês de outubro prosseguirmos no aprofundamento da obra do realizador sueco.

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