terça-feira, outubro 16, 2018

(DIM): 1984, Peter Lorre, L’Herbier, Michael Mann, Pacino e De Niro


Michael Anderson morreu no dia 25 de abril deste ano, quando pouco lhe faltava para ser centenário. Nunca foi realizador, que se recomendasse pela originalidade ou talento. Tarimbeiro quis ser, daí nunca passou. De qualquer forma talvez seja a fundamentação necrológica a justificar que a Cinemateca apresente o seu «1984» numa das sessões de amanhã numa das salas da Barata Salgueiro.
O romance de Orwell foi exageradamente valorizado por quem dele pretendia colher fins de propaganda em plena guerra fria. E nem o próprio escritor poderia imaginar quanto os objetivos totalitários de uma sociedade, em que estamos continuamente vigiados, viriam a ajustar-se que nem a uma luva aos propósitos capitalistas, sistema que desvalorizou nos seus anos finais, quando Estaline se tinha convertido no seu ódio de estimação.
Fica a curiosidade de ver Michael Redgrave num dos principais papéis, quando já assinara a sua melhor obra vinte anos atrás: a germinação de Vanessa que, politicamente, seria muito mais esperta que o progenitor.
Mais interessante será conhecer o documentário «A Dupla Cara de Peter Lorre», que Harun Farocki e Felix Hoffmann, realizaram no ano do título do romance de Orwell. Será uma hora inteira de imagens para conhecer um dos mais interessantes atores do século passado, tão desvalorizado, quanto engenhoso na composição dos seus personagens, quase sempre de «maus da fita».
Marcel L’Herbier foi um cineasta francês com obra de referência na época do mudo. Até à Segunda Guerra Mundial continuou a assinar filmes acima da média. Depois representaria um dos mais lapidares exemplos do que os críticos dos Cahiers designariam como «cinema à papa», mas, como diz o ditado, quem sabe, jamais esquece. E os filmes do período em que rodou «A Revoltada» (1948) merecem ser redescobertos, senão pela história - um melodrama sobre a indignação de uma mulher, que perde o marido e o amante -, pelo menos quanto à forma como criou o tom sombrio, que o tornou peculiarmente impressivo.
«Heat - Cidade sob pressão»  de Michael Mann (1995) apanha Pacino e De Niro no auge dos seus percursos cinematográficos, a confrontarem-se aqui numa estória sobre um polícia apostado em apanhar um bando de criminosos, que tinham roubado uma fortuna sem pouparem os que a transportavam numa viatura blindada. Robert De Niro é o vilão-mor de serviço!
Embora não aprecie o estilo de Mann, que prolonga excessivamente as narrativas, gerando longas-metragens merecedoras de montagens mais depuradoras, este título é tido como um dos melhores, que assinou.

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