domingo, maio 19, 2019

(VOL) Paris tal qual Edward Hopper a viu


Em 1906 um jovem nova-iorquino de 24 anos chega a Paris para, durante oito meses, identificar-se com o que aí se pinta por essa altura. Visitar exposições em galerias e salões era o seu objetivo, mas aproveitou, sobretudo, para percorrer a cidade e dela imbuir-se de uma visão muito pessoal. O seu nome era Edward Hopper e a família, devota seguidora de um culto evangélico, cuidou de lhe arranjar alojamento numa casa gerida pela missão a ele associado.
O visitante não parece incomodar-se com as restrições trazidas de além-Atlântico. A boémia, que Picasso, Matisse e muitos outros, alimentam em Montmartre não o cativam. O seu interesse foca-se naquela, que pressentia ser a mais bela cidade do planeta e de que ansiava transfigurar da aparente banalidade. Porque, comparada com o vertiginoso ritmo de vida de Nova Iorque, Hopper descobre na capital francesa o ritmo mais lento, que lhe permite visualizar a transição entre o que se dá a mostrar, e no que se torna, no momento seguinte, graças a um perpétuo movimento.
Pintor da solidão, representa as fachadas dos prédios, as pontes, os cafés e os céus em tons invariavelmente cinzentos, mas associando-lhes sombras esverdeadas, castanhas e, às vezes azuis, que lhes sugerem indefinida modernidade.
A marca nele impregnada perdurará nos anos seguintes, como se deteta no quadro «Soir Bleu», que pinta quatro anos depois. Embora a crítica o rejeite por excesso de francesismo, já lá mora a solidão dos ambientes urbanos, que caracterizarão toda a sua obra futura.
Olhando-o, e a exemplo de muitos outros quadros, que lhe conhecemos, ficamos siderados perante a estranheza da presença de um palhaço sentado num café. De quem se trataria? Como foi ali parar? Como reagirão os que o olham diretamente ou de través?
O quadro encerra um ciclo, mas Hopper terá encontrado em Paris os traços definidores do seu futuro percurso como artista.

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