segunda-feira, maio 20, 2019

(DIM) «A Primeira Vitória»(«In Harm's Way») de Otto Preminger (1965)


A mais de meio século de distância este é, seguramente, o pior filme de Otto Preminger de quantos vi até hoje.
A história passa-se no Havai, antes e depois do ataque a Pearl Harbour em 6 de dezembro de 1941, e estende-se até essa tal primeira vitória, que nunca existiu, porque a ilha Levu-Vana, apresentada como fundamental para servir de base dos B-17 capazes de bombardearem o Japão, nunca existiu senão na mente do escritor do romance em que o filme se baseia.
Preminger aproveita para fazer o que mais gostava: detalhar os comportamentos humanos de quem detinha os cargos mais importantes nas instituições. Temos, pois, oficiais heroicos a par de arrivistas para quem a guerra deverá servir de trampolim para as carreiras políticas ambicionadas para os tempos que seguirão. Temos extremosas esposas de oficiais, mas também as que primam pelas aventuras extraconjugais.
Não é, pois, nessa escusa ao maniqueísmo primário, que está o busílis da questão. Há, por exemplo, o exasperante cabotinismo de John Wayne, que a crítica da época desculpabilizou a pretexto do grave cancro então revelado, e que o levaria a extirpar um dos pulmões logo a seguir. Há a inverosimilhança dos navios e dos jipes facultados pela Marinha dos EUA, muito diferentes dos que existiam na época em que supostamente se passaram os factos. O mesmo com as farpelas das oficiais de então para quem não houve o cuidado de recriar o vestuário militar da época em causa.
O que, no entanto, mais desagrada é a tendência irritante para inserir uma lógica punitiva aos personagens de comportamento ambivalente. Paul Eddington (interpretado por Kirk Douglas) redime-se da condição de marido enganado e de violador da potencial nora de Torrey (John Wayne) armando-se em kamikaze contra um dos principais navios japoneses. E o filho de Torrey, que nunca conhecera o pai, e o rejeitava por não se coadunar com os valores da família materna pertencente à alta burguesia, passa-o a ver com outros olhos antes de ser uma das muitas baixas dessa batalha decisiva para garantir a primeira vitória contra os japoneses.
Sendo um dos últimos filmes dos grandes estúdios a dar da guerra uma ilustração a preto-e-branco, ainda que em Panavision, «A Grande Vitória» é apenas uma mera curiosidade, que em nada abona para o conjunto da filmografia daquele que foi um dos grandes mestres da História do Cinema.

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