quarta-feira, maio 29, 2019

(DIM) «Os Castelos Medievais» de Martin Becker e Sabine Bier (2018)


Ao chegar à adolescência, nos finais da década de sessenta do século passado, estava a ser disponibilizada uma interessante coleção de livros de divulgação sobre como era a vida quotidiana num muito diversificado número de civilizações desde a Grécia Antiga à Roma Imperial, não esquecendo as sempre exaltantes sociedades egípcias no tempo dos faraós ou da Inglaterra na época de Shakespeare.
Recordei esses livros a propósito deste documentário de mais de hora e meia, dividido em duas partes, em que se percorrem os quatro cantos da Europa para revelar como era o modo de construir e viver nas dezenas de milhares de castelos por ela disseminados ao longo da Idade Média.
Infelizmente os autores do documentário não vieram para cá dos Pirenéus perdendo a oportunidade para recorrerem a construções capazes de lhes reiterarem as teses.
Os primeiros castelos eram feitos de madeira e o senhor feudal, os membros da família, os artesãos e os servos ainda partilhavam o espaço exíguo no primeiro piso, dado que o térreo destinava-se aos animais por estes proporcionarem o aquecimento por condução e convexão muito útil nos meses mais frios do ano. As torres começaram depois a emergir para, do seu alto, os castelões demonstrarem o estatuto social acima de todos os demais, e aproveitando para delas acautelarem as possíveis ameaças vindas das vizinhanças do domínio.
A violência incrementou-se com a chegada do novo milénio: os senhores feudais guerreavam-se constantemente entre si para aumentarem a dimensão dos domínios, e contestarem os propósitos centralizadores dos autoproclamados imperadores, reis ou outros títulos nobiliárquicos, que apostassem em acrescentá-los ao número dos seus vassalos. Os castelos ganharam sofisticação e complexidade, até porque as armas capazes de os destruírem tornaram-se bastante mais eficazes. Às tantas não bastavam as sólidas muralhas, os fossos em seu redor e as pontes levadiças para que as catapultas e os canhões demonstrassem a iminência de uma nova era, aquela em que a autonomia dos senhores feudais se subordinaria ao poder central sob pena de se verem esmagados.
Entrados na segunda metade do milénio os castelos deixam de ser relevantes, porque todas as decisões são transferidas para as cidades, que florescem por todo o lado. Abandonados em grande parte, os castelos só voltarão a recuperar importância, quando os escritores do romantismo novecentista os vieram mistificar enquanto locais admiráveis, dignos dos maiores encantamentos.

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