terça-feira, maio 07, 2019

(DIM) «The Place» de Paolo Genovese (2017)


Há gerações que nos interessamos por estórias em que, a troco de algo, há quem venda a alma ao Diabo. Fausto e Mefistófeles são apenas dois dos personagens incutidos no nosso imaginário como exemplos de tais narrativas.
No filme de Paolo Genovese há um homem com aspeto de executivo, sentado à mesa de um restaurante banal. À sua frente vêm-se sentar interlocutores dispostos a cumprirem tarefas muito para além do que entenderiam enquadradas nos seus códigos morais, mas em troca das quais anseiam ver cumpridos os mais inacessíveis sonhos. Uma anciã dispõe-se a montar uma bomba artesanal e a provocar um atentado terrorista se tiver o marido curado da doença de Alzheimer. Outro aceita matar uma criança se o próprio filho, mais ou menos da mesma idade, usufruir de miraculosa remissão da doença terminal. Uma freira, que só reencontrará a voz de Deus, se engravidar. Uma rapariga disposta a roubar se ficar bela e, assim, conseguir que a amem. Um cego que, para recuperar a visão, terá de violar alguém. Um polícia capaz de deixar de o ser para reencontrar o filho, que nem sequer o quer ver.
O homem, que poderia ser a personificação do Diabo, mas é muito mais do que isso, vai-se sentindo cada vez mais cansado com a missão de convencer os outros da tangibilidade dos seus anseios. Mesmo que transformando-se em Monstros, ou Novos Monstros como, em tempos, a comédia italiana ilustrou em dois dos seus mais conhecidos filmes em sketches. Eles cruzam-se e descruzam-se, alguns desistem, outros alcançam o pretendido, mas o misterioso personagem libertar-se-á do que se convertera numa provação, salvo por um anjo chamado Angela, e que mais não era do que a empregada que, dia-a-dia, lhe ia servindo as refeições e os cafés.
«The Place» tem o mérito de, com meios reduzidos, e a ação passada num único espaço, suscitar-nos curiosidade e algumas surpresas de fio a pavio.

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