segunda-feira, maio 27, 2019

(DIM) «Almas Negras» de Francesco Munzi (2014)


Há filmes extremamente desagradáveis de ver, tão pouco assertiva é a sua história. Mas que possuem uma verosimilhança noutros inexistente.
No início deste filme de Francesco Munzi há um jovem chamado Leo, que decide provocar o chefe local da 'Ndrangheta estilhaçando a tiro a montra do estabelecimento de um dos seus protegidos. Ciente dos riscos da fútil audácia foge para Milão a acolher-se à proteção do tio Luigi. No entretanto Don Nino Barreca convoca-lhe o pai, Luciano, que odeia tudo quanto tenha a ver com mafias e seus negócios, e exige-lhe intermediação junto dos irmãos para que participe do fluxo de drogas provenientes de Marbella e por eles distribuído na Calabria.
Temos, assim, a clássica situação de um equilíbrio precário posto em causa pela irrefletida ação de um jovem, que não imagina quanto isso significará a destruição de todo o seu clã. Porque Luigi replica o comportamento do sobrinho e acaba morto numa rua da aldeia depois de uma noite de copos e Rocco vem de Milão para vingar-se do clã rival, mas descobre serem outras as regras na ilha, muito diferentes daquelas a que se habituara na cidade. Por isso os Carbone ficam isolados, incapazes de forjarem as alianças com outros clãs, que invertessem a relação de forças existente e, por isso mesmo, sujeitos à extinção que se adivinha. Mesmo que executada por quem menos esperavam: Leo acaba traído pelo melhor amigo e Rocco pelo próprio irmão, que sente no gesto redentor da autodestruição a única forma de pôr cobro a uma sucessão ininterrupta de assassinatos e de vinganças.
Não é história onde hajam bons e maus, porque todos os homens, à exceção de Luciano com a sua misantropia de pastor de ovelhas, estão entregues a negócios ilícitos, pondo à parte as mulheres, meras espectadoras - mesmo que nalguns casos bastante críticas! - do que os veem fazer.
Munzi aproveita para explorar o espírito do  espaço calabrês, demasiado condicionado pelo peso da religião, que justifica a subserviência perante os antigos senhores feudais, agora reciclados em incontestados chefes de organizações criminosas. Daí que, embora fértil em cenas de exteriores, todo o filme tenha um pendor claustrofóbico, quase insuportavelmente claustrofóbico.

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