domingo, maio 19, 2019

(DIM) «Sorry we missed you» de Ken Loach


Afinal Ken Loach não consegue deixar de fazer cinema: depois de ter anunciado a reforma definitiva, brindou-nos com «Eu, Daniel Blake» em 2016 e estreia agora em Cannes o seu título mais recente: «Sorry we missed you».

Desassossegado por natureza - como o testemunha a sua longa filmografia - não se conforma com o facto de o capitalismo não confirmar a anunciada crise e prosseguir nos danos com inusitado fulgor. O neoliberalismo selvagem traduzido em insegurança, precariedade e desumanização indignam-no o suficiente para o denunciar da forma como sempre o fez: criando personagens, que nos sejam empáticas, e com quem nos sentimos identificados quanto á revolta contra um sistema económico, que tarda em falir. O trabalho deixou de ser a condição necessária e suficiente para que se sustente a família e se a proteja das ameaças da extrema miséria.
Neste seu mais recente filme Loach volta a recorrer a atores não profissionais para ilustrar a catastrófica vertigem de uma família em que o pai, farto de mudar de emprego, decide avançar para um projeto de empreendedorismo. Para tal convence a mulher a vender o carro, que tão necessário lhe é para as deslocações a casa dos idosos a quem presta apoio, para comprar a carrinha com que pode associar-se, como trabalhador independente, a uma empresa de distribuição de encomendas postais.
É claro que a ilusão depressa ficará desfeita, deixando-o a chorar na sua carrinha convertida em prisão, mais do que em local de trabalho.

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