sábado, maio 18, 2019

(VOL) O futuro que pouco interessa a Souto Moura


Eduardo Souto Moura diz-se pouco interessado pelo futuro, referindo-se a Einstein, que corroborava a futilidade de tal preocupação, porque os tempos vindouros chegariam demasiado depressa, não dando espaço a quem o pretenderia caracterizá-lo assim ou assado.
Relativamente a esta posição sinto alguma ambivalência: o futuro interessa-me, e muito!, ou não tenha sido um cultor entusiasmado da saudosa coleção Argonauta, quando vivia na impaciente adolescência. Na altura a conquista da condição de adulto era-me tão forte, que nele radicava as mais ambiciosas esperanças. E uma delas surgira-me quase intuitivamente a partir de leituras e do que ouvia dizer a quem admirava: a expetativa de ainda ver concretizada a utopia de uma sociedade sem classes. Por um breve instante julguei possível vê-la franqueada pela Revolução de Abril, mas a festa foi tão bonita quanto curta!
Discordo, pois, do arquiteto portuense e do genial cientista que cita: por muito que venha aceleradamente ao nosso encontro, e assumindo contornos mais do que dececionantes, esse futuro continuará a ser o do nosso reiterado descontentamento. Porque  mostra-se muito aquém do que gostaríamos que fosse. Mas quem nos nega o sonho de, um dia, as utopias converterem-se em realidades?

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