domingo, maio 12, 2019

(DL) «Os Buddenbrook» de Thomas Mann


O que surpreende neste romance é sabê-lo ter sido escrito quando o autor estava entre os 22 e os 25 anos, e motivado a Academia Sueca a premiá-lo com o Nobel da Literatura em 1929. Baseando-se no exemplo da sua própria família, que lançara o negócio do comércio de cereais em Lubeck em 1790, Thomas Mann faz dos seus protagonistas os seus principais tutelares entre 1835 e 1877.
Influenciado por Tolstoi, Paul Bourget ou Theodor Fontaine, mas sobretudo pela filosofia de Schopenhauer e de Nietzsche, ele quis dar substância ficcional à ideia de decadência. Porque é disso mesmo que se trata, embora seja falsa a tese de estar em questão a da burguesia alemã. O que estará verdadeiramente em causa é a contradição insanável entre as idiossincrasias dessa classe social e quem as despreza em proveito das preocupações artísticas.
Dividido em onze partes, o romance começa com Johann, homem trabalhador e piedoso, a criar a cada comercial da sua família, os Buddenbrook. A mulher morre-lhe logo no primeiro parto, legando-lhe um filho, Gotthold, que não será o herdeiro do negócio, tarefa transitada para o meio-irmão Jean, nascido do segundo casamento do patriarca enviuvado.
Quatro filhos nascem dessa segunda geração abordada no romance, cabendo ao mais velho, Thomas, a receção do testemunho. O problema é que, pelos trinta e sete anos, ele vê-se acometido de uma crise mística, que sente como revelação de uma «embriaguez metafísica». Ele bem anseia, que Hanno, lhe suceda o mais brevemente possível, mas muito frágil, o rapaz não dá o mínimo sinal de se vir a interessar pela empresa familiar. Daí que Thomas tenha lucidez bastante para, à beira da morte, decretar o fecho do negócio no prazo máximo de um ano após o seu passamento. E não tarda que a linhagem masculina dos Buddenbrook se extinga, porque, vitimado pela febre tifoide, Hanno morre aos dezasseis anos.
Ao contrário do que se verificava nos escritores naturalistas - mormente em Zola - a decadência das famílias não decorre das suas taras. O que aqui as explica é a opção dos personagens pela vida interior em detrimento da materialidade dos negócios. De facto não poderia haver antítese mais absoluta, que a de Hanno relativamente ao bisavô empreendedor.

Sem comentários: