sexta-feira, maio 03, 2019

(DIM) «Campo» de Tiago Hespanha (2019)


Nos anos mais recentes a minha cinefilia foi particularmente bafejada com dois filmes encantatórios de Patrício Guzman - «Nostalgia da Luz» e «O Botão de Nácar» - que associava as grandes forças do cosmos com as tragédias da História Chilena, quer nas que se traduziram em milhares de desaparecidos às mãos da ditadura de Pinochet , quer nas que conduziram à extinção de grande parte dos ameríndios durante a colonização espanhola e, depois, nas décadas subsequentes à independência do país.
Ora, nesta noite em que «Campo» de Tiago Hespanha tem a primeira apresentação pública no nosso país, depois de já ter estado em festivais internacionais, os portugueses passam a aceder àquele que o crítico do «Público», Jorge Mourinha, considera «grande cinema». E, porque o seu texto sobre este documentário diz mais do que sobre ele pudéssemos conjeturar, aqui fica extratos justificativos de nos abrirem gulosamente o apetite: “Talvez a maneira mais simples de pôr a coisa seja esta: a Competição Portuguesa do IndieLisboa arranca com um grandíssimo filme (...). E esse filme é um documentário simultaneamente rigoroso e poético, com os pés bem no chão e a cabeça bem nas estrelas, que pega num local de que todos ouvimos falar e o torna num microcosmos do mundo todo, quando não do universo.
Campo (...) entra desde já para a lista dos grandes filmes portugueses dos últimos anos, jogando numa série de patamares de simbologia e referência que vão da mitologia clássica à astronomia, mas sem nunca perder de vida a dimensão humana, quotidiana, daqueles que vivem à volta do Campo de Tiro de Alcochete: os recrutas em treino, os ornitólogos em observação, os astrónomos que olham para os céus noturnos, o miúdo que compõe peças ao piano, o cuidador das ovelhas. De certo modo, é um filme sobre a vida, sobre o círculo da vida, narrado pelo próprio realizador com a poesia cósmica a que, por exemplo, Patricio Guzmán acedeu em «Nostalgia da Luz».”

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