Em 1976 os espectadores do Festival de Cannes entusiasmaram-se com um documentário dos irmãos Maysles - «Grey Gardens» - sobre duas mulheres, mãe e filha, anteriormente pertencentes à classe alta dos Hamptons, que haviam caído na indigência e isolamento, quase se vendo expropriadas e erradicadas dali pelas autoridades locais.
Quatro décadas passadas encontraram-se quatro bobinas rodadas por Peter Beard, Jonas Mekas e Andy Warhol, que testemunhavam a mesma história, e para cuja montagem foi convidado o sueco Goran Olsson. O resultado é este documentário, que serve de prefácio àqueloutro, entretanto esquecido, embora escolhido para figurar na Biblioteca do Congresso. O tema acaba por ser o mesmo: a ilustração de um tempo definitivamente perdido.
Essas imagens resgatadas do passado datam do verão de 1972, quando o fotógrafo Peter Beard e a sua amiga Lee Radziwill - irmã de Jacqueline Kennedy Onassis - foram passar o verão em Long Island, aí recebendo a visita de diversos amigos da Factory, incluindo Andy Wharol e Paul Morrissey, bem como Truman Capote. Terá sido de Lee a ideia de irem visitar a tia e a prima ali residentes num excêntrico eremitério.
Edith Ewing Bouvier Beale e a Little Edie estavam sem recursos e isoladas do mundo num ambiente infecto, onde o lixo coexistia com os excrementos dos seus muitos gatos. Agradou-lhes a visita da tribo de visitantes, que lhes propõs deixarem-se filmar, revelando o possível sobre as suas memórias e pensamentos. Com alguma resistência elas até aceitarão que, com a ajuda financeira do armador grego, tenham a mansão requalificada e limpa. E, revelando o sentido de quem possui a noção da sua própria representação para as câmaras que as filmam, elas mostram-se, enquanto personagens, muito além do que aparentariam no dia-a-dia.
Lee e Peter, já muito longe da juventude, que ainda aparentavam naquelas imagens recordadas com saudade, comentam em off, o que Goran Olsson deu a ver, servindo-nos de anfitriões a uma realidade surpreendente.
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