segunda-feira, maio 06, 2019

(DL) «A mulher que correu atrás do vento» de João Tordo (2019)


À medida que se vão conhecendo os títulos da sua já considerável produção ficcional, cresce o prazer com que lemos os romances de João Tordo. As estórias intrigam, criam a expetativa quanto ao modo como evoluem para um qualquer desiderato e aparecem-nos sustentadas numa estrutura complexa, rigorosa, mas destinada a melhor estabelecer os paralelismos entre os percursos dos diversos personagens. Acabaremos por concluir que, apesar de mudarem as épocas dos acontecimentos, eles tendem a replicar-se com similitudes impressionantes.
Em «A mulher que correu atrás do vento» há uma professora de piano e um aluno autista com notáveis dotes de compositor, uma atriz conceituada incapaz de dissolver o abismo cavado entre si e a filha, que entregara para adoção ainda quando andava de fraldas, ou uma tradutora de Joyce com que entramos no livro e dele saímos. Há sexo censurado pela sociedade, identidades desacertadas, gente sem abrigo e voluntários que a apoia, uma herdade no Alentejo ou cidades intimidantes. Mas, sobretudo, algozes, que nunca deixam de se quere vitimizar, incapazes de manifestarem quaisquer sentimentos de culpa. E chegamos a conjeturar a existência de três narrativas autónomas com elos em comum, mas todas se entrelaçam naturalmente antes do desenlace.
Tordo consegue-nos surpreender pondo-nos a tirar ilações, que, adiante, se revelam incorretas por serem outras as verdades reveladas. Daí a propensão para apressarmos o ritmo da leitura, espicaçados na curiosidade de vermos esclarecidas as dúvidas.
Fica a curiosidade de aferirmos o que nos oferecerá João Tordo no romance seguinte para corroborar-nos a ideia de, com ele, a fasquia vai ficando sempre mais alta.

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