segunda-feira, maio 13, 2019

(DIM) «A Grande Esperança» de John Ford (1939)


Durante este mês a Cinemateca está a dedicar um dos seus ciclos aos filmes produzidos no ano de 1939, estando prevista para quarta-feira à tarde a apresentação deste «Young Mr. Lincoln». Eisenstein diria ser este um filme, que gostaria de ter realizado, e muitos outras apontá-la-iam como a obra maior do «realizador de westerns».
Começou por ser um projeto do produtor Darryl Zanuck, que pensou entrega-lo a Irving Cummings, mas o confiou a John Ford, também ele apostado em ilustrar a grandeza de Lincoln desde a juventude. Até porque se tratava da segunda vez, que rodava um filme sobre o mítico presidente: em 1935 assinara «O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões» («The Prisoner of Shark Island»), dedicado a dois episódios na vida dele, o primeiro em 1832, quando se entusiasmara a falar às multidões em nome do partido em que acabara de se filiar e sentira a impreparação, que o tolhia e o motivaria a estudar Direito, e o segundo em 1837, quando conseguira a inocência de um réu contra o qual todas as provas se acumulam.
No início do filme já o vemos encarreirado na política, mas com a ambição de se tornar advogado. Concretizando tal objetivo, instala-se em Springfield, mas os primeiros casos são entediantes de tão vulgares. Até que, durante a festa da independência, ocorre um assassinato e decide avançar para a defesa dos dois presumíveis culpados.
Desde logo nos é dado perceber que a vida de Lincoln será marcada pela tragédia ou não perca precocemente a sua Anna Rutledge, que muito amou. Há quem veja na cena dos blocos de gelo a flutuar no rio, enquanto à sua beira, está perante a campa dela, como a representação da Guerra da Sucessão, que ocorreria no seu mandato como Presidente. Mesmo tratando-se de um filme sobre a juventude do personagem estão lá os indícios do que o futuro lhe reservaria. Isso mesmo fica sugerido nas cenas finais, quando chega à rua depois de concluído o processo judicial e a silhueta se alonga com a ajuda do icónico chapéu. Sente-se que deixou de ser um modesto advogado de província para revelar-se o ser excecional, prometido a um destino singular. E a tempestade que logo deflagra também remete para esse conflito futuro.
Para protagonista John Ford desafiou Henry Fonda, que se mostrou renitente, alegando que seria como se fosse representar Deus. Mas a insistência do realizador venceria a resistência do ator, sobretudo depois de convencido a deixar-se maquilhar. Quando se olhou ao espelho foi como se o próprio Lincoln o estivesse a observar. E assim cumpriu uma das suas mais celebradas interpretações no cinema... 

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