domingo, maio 12, 2019

(VOL) A febre do ouro


É um dos metais preciosos mais caros, um dos mais cobiçados. O que explica o mercado opaco, que o movimenta entre os locais donde é extraído à custa de tremendíssimos prejuízos sociais e ambientais até chegar aos que o adquirem na forma de anéis e outros tipos de joias, de lingotes ou de produtos de alta tecnologia.
A exploração de novas jazidas suscita protestos ruidosos, nomeadamente a que a Lucky Minerals iniciou na Emigrant Mountain junto ao Parque de Yellowstone. Os lucros colossais, que as multinacionais obtém, não as detém, mesmo quando estão em causa as regiões até agora poupadas à ação humana e cuja proteção deveria estar garantida. E se os bancos financiam esses crimes ecológicos, os governos não os impedem, e até os promovem. A indústria mineira converteu-se numa das principais responsáveis pelas ameaças ao meio ambiente.
O problema torna-se ainda mais complicado nas minas artesanais da América Latina, de África ou da China, que recorrem ao mercúrio ou ao cianeto para dissociarem as pepitas das rochas a que estão associadas, envenenando cursos de água, lençóis freáticos e matando populações humanas ou de muitas espécies doravante condenadas à extinção. Cinquenta milhões de famílias dependem delas, do Perú à Colômbia, da China à República Democrática do Congo e, quer sejam legais, quer clandestinas, não levam em conta a saúde e a segurança de quem nelas trabalha, em muitos casos crianças sem hipóteses de o serem.
O negocio do ouro tornou-se mais rentável do que o da cocaína, tornando-se na principal atividade de numerosas organizações criminosas na África Central ou na América do Sul. As guerras civis e atentados terroristas passaram a ser financiados pela introdução desse «ouro de sangue» nos mercados internacionais, que tardam em exigir um rastreio rigoroso dos percursos tomados pelo que o vendem, desde o local de extração até ao de venda, passando pelos de refinação.
Em todas as fases da cadeia de produção existem soluções alternativas mais equitativas, sustentáveis e menos perigosas, que começam a ser timidamente implementadas. Mas são uma gota de água num charco infecto, onde tardam a fazer a diferença. Porque a vontade política da comunidade internacional ainda não irrompeu a partir da consciência de quanto todos temos a perder com a morosidade em deixar que as coisas continuem a ser como são.

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