O «The Guardian« considerou este conto uma alegoria intrincada, que captura uma vida inteira para explorar a realização e a ideologia do casamento.
A protagonista é Laura Flatface que, como o nome o indica, tem a cara achatada, razão de ser para subestimar-se quanto à sua beleza. Dona de casa suburbana, com marido, três filhos e preenchimento do tempo nas instituições cívicas inerentes ao american way of life, cansa-se da monotonia quotidiana e, durante uma viagem de comboio, deixa o atónito Jim para fugir com um proxeneta de nome igualmente revelador do seu carácter, Mr. Obscenity.
Os tempos seguintes são de completa libertinagem dando-se com afeto ao «mentor» e com indiferença a quantos se encaixam entre as suas pernas. Mas o anseio de uma liberdade plena leva-a a escapar-se-lhe, prosseguindo no mesmo ofício por conta própria em várias cidades, sempre perseguida por quem dela se embeiçara, mais do que vira como investimento e pelo igualmente enfeitiçado inspetor Jug, contratado por aquele para a encontrar.
Laura distrai-se a ler tabloides e a passear pelos Estados Unidos, tendo prazer em conhecer-lhe os lugares mais aprazíveis. Numa dessas viagens de lazer conhece um marinheiro bem mais novo e será com ele que voltará a casar, mudando-se para San Diego.
Arthur será quem amará verdadeiramente até ao final da vida, que ocorre muito em breve na sequência de uma gastroenterite contraída em Tijuana à conta de uns tacos comprados a um vendedor ambulante.
No delírio de moribunda confunde Arthur com o ex-marido e mistura valores pronunciando frases desconexas reveladoras de quem fora e em quem se viera a tornar.
É claro que, quando o corpo vai a cremar, Arthur e Jim abraçam-se, solidários na dor, não faltando Mr. Obscenity e o inspetor Jug à cerimónia.
Irónica e forçando nos estereótipos, Sontag consegue desconcertar com este conto sobre uma mulher, que não olha a meios para transformar-se à medida das suas singulares convicções.
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