quinta-feira, maio 30, 2019

(DL) Estamos no ano do centenário do nascimento de Doris Lessing


Este é o ano em que comemoraremos o centenário do nascimento da escritora Doris Lessing, que foi merecidamente galardoada com o Nobel da Literatura em 2007. Será a oportunidade para recordarmos muitas das suas obras, que abordavam, por um lado, a segregação racial praticada na antiga Rodésia do Sul (hoje Zimbabwe) e, por outro, as fascinantes paisagens africanas com a savana a perder de vista e os seus animais selvagens.
O pai de Doris Lessing foi um dos iludidos colonos enviados pela Inglaterra para a sua nova colónia africana, quando ela acabara de ser integrada no Império Britânico. Alfred Tayler vira terminada a comissão de serviço num banco do Curdistão - onde ela nascera! - e vira na sua reconversão enquanto agricultor a oportunidade de enriquecer. Não o intimidava o facto de ter uma perna a menos, perdida durante a sua participação da Grande Guerra.
O prometido paraíso transforma-se num desastre doloroso: as secas dão cabo das culturas, apesar da propriedade concessionada a Alfred contar com mil e duzentos hectares. Emily Maude, a mãe, passaria grande parte do tempo afundada na sua permanente depressão, o que significou para a jovem Doris o sentir-se, sobretudo, entregue a si mesma. Daí que se desse ao prazer de explorar as proximidades da propriedade familiar, descobrindo nos vizinhos negros uma cultura completamente diversa da sua, com crenças animistas fazendo das árvores o fulcro da sua veneração.
A jovem também testemunhará a progressiva implantação do apartheid recentemente aplicada na União Sul-Africana nesta colónia sua vizinha, sendo-lhe absurda essa repartição social entre os brancos, que mandavam, e os negros, destinados a servi-los. Não admira que, quando se mudou para Salisbúria (hoje Harare), onde encontrou trabalho como telefonista, Doris se aproximasse dos círculos comunistas aí organizados, conhecendo o seu segundo marido - que lhe valeria o apelido! - um alemão que viria a ser nomeado embaixador da RDA no Uganda logo após a Segunda Guerra.
Mudando-se para a Europa Doris iniciou um percurso literário muito intenso, com dezenas de títulos publicados, quer em contos, novelas, romances ou autobiografias, nalguns casos com recurso ao pseudónimos de Jane Somers.
Proibida de voltar à Rodésia do Sul e de visitar a África do Sul por ter mantido um permanente ativismo anti-apartheid, Doris Lessing nunca deixaria de ter como componente fundamental da sua identidade essa pertença a uma África eterna, que desejaria ter visto capaz de garantir uma convivência pacífica entre as suas diversas comunidades e etnias.

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