quarta-feira, maio 15, 2019

(DL) Scott Fitzgerald e o fascínio por Nova Iorque


Em 1919, quando chegou a Nova Iorque vindo do Minnesota natal, Francis Scott Fitzgerald tinha 23 anos e animava-o a ambição desmedida de tornar-se o mais importante escritor norte-americano de sempre.
No rescaldo da Grande Guerra os loucos anos 20 significavam audaciosos projetos arquitetónicos, que transfiguravam o aspeto da cidade. A atmosfera era eletrizante e a economia conhecia imparável crescimento, justificando os sonhos de grandeza de muitos empreendedores.
As ricas mansões apalaçadas da grande burguesia junto ao Central Park - então ainda percorrido por rebanhos de ovelhas! -, fascinaram o aspirante a escritor, que imaginou Jay Gatsby, a aceder-lhes às festas faustosas, regadas a champanhe. Ou nas organizadas todas as noites no majestoso Plaza Hotel, apesar da Lei Seca. Acreditando agarrar no leme desse turbilhão, o personagem imaginado por Fitzgerald tornava-se, igualmente, um frequentador regular das lojas de luxo da Quinta Avenida, estando a Cartier e a Tiffany entre as mais emblemáticas.
A exemplo dos muitos amigos, que fez na cidade, Fitzgerald endividava-se, porque os rendimentos da escrita ficavam-lhe sempre aquém do financiamento do estilo de vida, que julgava incontornável. O consumismo constituía a regra e, como as tristezas não pagam dívidas, estas eram esquecidas na euforia da embriaguez e da dança frenética.
Fitzgerald também encarreirou Gatsby para Long Island, onde os milionários da cidade construíam obscenos paraísos, autênticas montras ilustrativas do seu sucesso empresarial e social. Nessa desmesura o garboso personagem morre, atingido a tiro, quando nadava na piscina. Acabava-se a ilusão de ter ascendido ao cume da sociedade, dela  sendo drasticamente erradicado.
Tendo em Gatsby o alter ego, Scott Fitzgerald viu-se seriamente condicionado pela Grande Depressão de 1929. Nunca alcançando o reconhecimento almejado, e ainda menos os correspondentes proveitos, andaria então numa roda viva entre os dois lados do Atlântico sem encontrar um sítio, que conseguisse sentir como seu...

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